quinta-feira, 15 de julho de 2010

Eu lembro de ter lido uma frase, durante minha época de tumblriana assídua (faz mais ou menos um ano), que perguntava se você gostaria de si mesmo, se "se conhecesse". "Would you like you if you met you?", era a pergunta, para ser mais exata.
Eu estava conversando com meu avô esses dias (venho passando muito tempo na casa dele), enquanto ele, que adora cozinhar, estava se batendo (no sentido figurado e não literal) com a manivela da máquina de fazer macarrão. Eu estava reclamando do meu pai, dizendo que eu era uma filha boa e nunca fazia nada de errado, e que ele acabava sempre inventando problemas inexistentes para ter do que reclamar. (Ler o que eu acabei de escrever me fez sentir tipicamente adolescente, e eu meio que odeio isso, mas o que eu posso fazer? 1. Eu sou mesmo uma adolescente e 2. Meu pai realmente consegue ser um pentelho, quando ele quer.)
É engraçado o quanto me aproximei do meu avô, esse ano; o quão rápido ele conseguiu passar de o vô-que-ainda-tem-cabelo-e-que-gosta-de-falar-de-política para alguém tão próximo de mim. Próximo o suficiente para olhar para mim, depois da minha declaração tipicamente adolescente, e falar, numa boa, sobre como é errado querer falar de você mesmo. Sobre como nós não temos muito direito de nos auto-julgar. Sobre como quem acaba podendo nos definir de verdade são os outros.
Sabe, meu vô não é um gênio da psicologia. Ele gosta de ficar sozinho, de conversar sobre política e de cozinhar, e tem uma certa dificuldade em manter conversas com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, além de odiar ser interrompido enquanto está falando de tal maneira que, quando isso acontece, ele desiste totalmente de contar qualquer que seja a história que ele pudesse estar contando. Mas ele provavelmente está certo nesse aspecto. O aspecto do auto-julgamento, eu quero dizer.
As outras pessoas te julgam como elas querem. Pensam em você como elas - nem que inconscientemente - querem. Lebram das partes de você das quais elas querem lembrar. Mas, no final, é isso que fica, sabe?
Eu posso ter alimentado em mim a consciência de que mudei, do ano passado para cá. De que consigo encarar as coisas de um jeito diferente. De que finalmente consegui parar de querer ser perfeita e fofinha, sendo mais corajosa, menos tímida, e assumindo mais meus erros.
Isso não impediu, de maneira alguma, com que Marta, a chilena de quarenta e poucos anos que faz yôga comigo, exprimissse explicitamente o que ela pensa de mim, essa semana.
"Você no é como as otras meninas da sua edad, é diferente", ela começou a dizer.
Eu sorri para ela, envergonhada. Apesar de a única palavra usada por mim para descrever Marta até hoje ter sido "engraçada", eu gostei de ouvir a opinião dela sobre mim. Isso porque a verdade é que não acho a maioria das meninas da minha edad muito interessantes.
"Você é muito meiga, correta. No é como las otras meninas que son muito...", ela fez uma pausa, provavelmente à procura de uma palavra. "Como posso dizer...?", disse, virando-se para nosso instrutor e esperando que ele encontrasse a palavra que ela estava procurando.
"Perdidas!?", ele sugeriu.
"No, no. Ai, no sei como dizer. Mas las otras meninas no son como você. Son muy decididas."
Meu sorriso começou a diminuir.
"Você é más como mia filha. Sáo más corretas. "
"São meninas de família", interrompeu o instrutor.
"Isso, meninas de família. No como las otras."
Meu sorriso, apesar de ainda estar presente, estava provavelmente um tanto quanto (no sentido figurado e não literal) amarelo, nessa altura da conversa. 1. Será que eles estavam certos? Será que eu era uma "menina de família"? 2. Será que é bom, ser uma "menina de família"?
Bom. De acordo com uma fonte um tanto quanto imbecil, uma menina de família é "aquela estudiosa, educada, prestativa ,q ajuda sempre os outros, não usa drogas e nem se prostituí, mas q é feliz sendo assim...". Apesar de isso totalmente estragar o prazer que eu tenho em poder pensar em mim de um jeito bem melhor do que o descrito acima; a primeira impressão que a Marta teve de mim foi um tanto quanto melhor, um tanto quanto mais completa do que a que eu tive dela. Ela não disse simplesmente "Ah, a Giovana? Ela é muito engraçada..."
Mesmo assim, gosto de acreditar que, se o meu eu-do-ano-passado conhecesse o meu eu-de-agora, "menina de família" não seria o primeiro termo usado para me descrever.
Mas daí voltamos para aquela coisa né, de que tem coisas que não conseguimos mudar em nós mesmos.
Quem sabe eu vá viver para sempre com essa imagem de menina de família nas costas. Quem sabe não. O que eu sei é que não sou menina de família, nem menina-não-de-família. Sou só menina.
E, mesmo não sendo essa a que conta, a imagem de mim mesma que prevalece pra mim por enquanto é aquela descrita por uma frase em inglês, embaixo do meu nome e das fotinhos da Regina Spektor e companhia, ali no lado direito do blog.


Um comentário:

  1. haha, adorei!
    como os bons textos de la pleureuse :)

    também dizem que sou uma "menina de família", mas não ligo pra isso, acho que no final é melhor do que ser uma "menina como todas as outras da sua idade" ;)

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