segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vim para Balneário Camboriú, em Santa Catarina, todos os verões da minha vida, sem exceção. Em todas essas vezes, fiquei hospedada neste mesmo apartamento, situado a 3 quadras da praia e que pertence ao meu avô. Apesar de, ao longo do tempo, o lugar ter sido reformado, redecorado várias vezes e assaltado (apenas uma vez, graças a Deus); além da constante chegada de novas tecnologias ao apartamento - novos ventiladores, ar-condicionado, nova geladeira, máquina de lavar roupa... -, vir aqui me parece sempre igual. Chegar aqui e sentir o cheiro familiar, ouvir o barulho que meus pés descalços fazem quando ando sobre o piso, dormir na mesma cama, olhar para a mesma janela, coberta pela mesma cortina, enquanto fico deitada descansando e esperando meu cabelo secar depois do banho...
Outra coisa que se tornou familiar com o tempo foi "conviver" com a família que estivesse hospedada no apartamento ao lado, já que a janela da nossa cozinha dá certinho na frente da janela do apartamento 502. Já ouvi muitas conversas alheias, a maioria das vezes travadas por mulheres meio fofoqueiras enquanto cozinham ou enquanto uma delas lava e a outra seca a louça (essas são mais difíceis de ouvir por causa do barulho da água). Esse verão, depois de chegarmos aqui, enquanto ajudava a guardar as coisas de cozinha, olhei pela janela e imaginei quem estaria hospedado ali esse ano. Quem sabe seria alguém interessante. Um cara bonito.
No final das contas, acho que vou permanecer na familiaridade. Nada de caras bonitos e interessantes para eu paquerar. Acabei de voltar da cozinha, onde estava tranquila comendo uma bananinha, até perceber que estava invadindo a privacidade de um gordinho de bigode, que, ali na sua cozinha, estava tirando um tatuzinho do nariz.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A folhinha de maio anunciava a chegada do 15º dia sem banho. O mal-estar abafado pelas roupas impermeáveis e pelo esforço físico se fazia notar. O termômetro apontava 30 graus negativos, castigados pelo vento de 150km/h. Apesar das condições nada favoráveis, não tinha mais como adiar. Era chegada a hora do banho. A moça, então, iniciou o ritual: caminhou até o rio, encheu seu galão de 20 litros de gelo, acendeu o fogareiro, esquentou a água e abriu um sorriso prevendo sua tão esperada ducha. Entrou na barraca, despiu-se e suspirou com as primeiras gotas de líquido morno que sentia na pele em duas semanas de subida ao monte Everest.
Karina foi arremessada em questão de segundos. Os constantes minitornados característicos da região se formaram justamente quando ela, enfim, banhava-se. A barraca se lançou pelos ares e ela foi atirada 10 metros pelas pedras que cobriam o chão. "Caí, bati a costela, o ombro, o cotovelo e achei que tinha quebrado o braço. As minhas roupas voaram, fiquei pelada no meio do acampamento", recorda ela, sem demonstrar tempo ruim. Quem saiu atrás das roupas de Karina foi Jordan Romero, o norte-americano de 13 anos considerado o mais jovem escalador a alcançar os 8.848 metros do Everest - feito conquistado na companhia do pai e da madrasta. Paul e Karen, então, socorreram a amiga brasileira. As escoriações e contusões a deixaram sem mover o braço por 3 dias, mas, médica por formação, ela soube logo se tratar.
Dias antes de encontrar a família Romero e chegar ao último nível antes do cume, Karina se encontrava no lado norte do Everest (Tibete) justamente exercendo o ofício. Especializada em medicina de resgate em áreas remotas, ela havia sido contratada para monitorar a caminhada de um senhor de 80 anos até o acampamento-base. Richard Bass, o primeiro homem da história a escalar os sete picos mais altos de cada continente, estava indo celebrar os 25 anos do feito, conhecido como Seven Summits: Everest (Ásia), Aconcágua (América do Sul), Denali (América do Norte), Kilimanjaro (África), Elbrus (Europa), Vinson (Antártida) e Pirâmides de Cartzen (Oceania).
Essa era a segunda vez que Karina encarava os ventos gelados do Everest. Sua estreia foi com Dani Monteiro para a gravação do programa
Extremos, do Multishow. "Em alguns momentos tive certeza de que não ia conseguir chegar", desabafa a apresentadora carioca. "Mas a Karina sabe te motivar, ela tem muito mais preparo físico do que eu. Tudo o que ela diz fazer pode ter certeza de que faz muito bem. Além de ser forte psicologicamente", completa.
Quando Dani diz "tudo", ela se refere aos tantos esportes que Karina pratica. Ela é bicampeã brasileira de wakeboard, instrutora de mergulho, praticante de apneia, canoagem, kitesurf, snowboard, escalada em rocha, rapel, hipismo, downhill e já integrou equipes de corridas de aventura. Dançou balé por 12 anos, jazz por sete e tem a pole dance como hobby. Hoje, almeja o projeto que Richard Bass concluiu em 1985: "Quero ser a primeira brasileira a chegar aos sete picos mais altos de cada continente", desafia. Dos sete, ela já alcançou um. A subida aos 5.895 mil metros de Kilimanjaro foi registrada para o quadro "Rota Radikal" - com produção e roteiro de punho próprio -, exibido no programa semanal
Esporte Fantástico, na Record, entre meados de 2009 e 2010. Três anos antes, foi uma das apresentadoras do "Rolé", quadro do Zona de Impacto, no SporTV. Agora, comemora o recém-contrato com o Multishow, ainda sem saber o formato do programa.
O primeiro sinal da veia outdoor de Karina soou em 1989, quando, aos 7 anos, anunciara a família que desistira de ser astronauta para virar surfista profissional. Aos 8 anos, brotou a ideia fixa de saltar de paraquedas. Após três de insistência, recebeu o aval dos pais para se lançar ao céu de Boituva, no interior de São Paulo, e conheceu a sensação de queda livre. Já mais velha, aos 15 anos, foi morar na Austrália para terminar o ensino médio e se tornou salva-vidas em Gold Coast, depois de provar o excelente preparo para a natação. "Não queriam deixar de jeito nenhum, mas estava obcecada e passei nos testes", conta. A irmã caçula, Nathali, profissional de snowboard e companheira de escaladas, legitima o que já é notável: "A Karina não desiste nunca, é dedicada, muito transparente e forte emocionalmente."
Na volta ao Brasil, entrou na faculdade de Medicina do ABC e, seis anos depois, em 2007, se mandou para os Estados Unidos para se especializar em medicina de emergência e resgate em áreas remotas. Nesse meio-tempo, tirou brevê de piloto de helicóptero. "Fui fazer medicina para poder ajudar as pessoas no momento em que elas mais precisam", explica. Em 2008, portante, fundou, com dois sócios, a Medicina da Aventura, a primeira organização brasileira ligada à Wilderness Medical Society, da qual é membro, para promover treinamentos no ambiente selvagem, tais como: salvamento, doenças de altitude, ataques de animais selvagens, entre outros, além de liderar equipes de suporte para corridas de aventura.
Tanta atividade física exige um bom condicionamento. Quando está em São Paulo, onde mora com o pai, empresário, a mãe, maratonista, e as duas irmãs, Karina pratica corrida em ladeiras. Porém, como montanhista, não basta. É preciso treinar mais alto. Visto isso, ela escolheu o arranha-céu mais famoso da cidade como lugar de treino: o edifício Terraço Itália. Cinco dias por semana, carrega a mochila com 20 quilos de anilha de academia e sobe os 42 andares da escada de incêndio repetidas vezes. "É o melhor treino para o montanhismo", defende a moça, que ganhou permissão para tal depois de apresentar o projeto dos sete maiores picos de cada continente. "O montanhismo é desafiador, ninguém consegue se não tiver estratégia: você tem que carregar sua comida, sua roupa, seu oxigênio, derreter a água que toma...", enumera Karina, interrompendo a fala para contar que foi convidada para ser a representante sul-americana de uma expedição de sete mulheres que irão cruzar o polo sul, em 70 dias. Se ela tem medo? "Tenho medo de injeção e de a vida passar e não ser bem vivida. Tenho mais medo disso do que de morrer, então prefiro correr o risco", desafia ela, que só tem 28 anos. Imagina, então, quando chegar aos 80.

- Carol Sganzerla, revista TPM Novembro 2010.

Mais medo de injeção do que de morrer já está forçando a barra, né... Eu também não sou, digamos, a fã número um das agulhas, mas convenhamos.
De qualquer maneira...
Giovana Feix, leitora da revista TPM, só está aqui para legitimar o que, depois da leitura da história de Karina Oliani, já é extremamente notável:
EU PRECISO FAZER ALGUMA COISA DA MINHA VIDA.

sábado, 18 de dezembro de 2010

"Ugh, you make me sick. Have some fire. Be unstoppable. Be a force of nature. Be better than anyone here, and don't give a damn what anyone thinks. There are no teams here, no buddies.
You're on your own. Be on your own."

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

summer in the city

Infelizmente, minha empregada (cujos monólogos eu, que definitivamente passei tempo demais em casa essa semana, não aguento mais ouvir) estava certa quando, naquela deprimente segunda-feira chuvosa, afirmou que o tempo permaneceria igual durante o resto da semana.
Aliás, ontem, em Curitiba (situada, por mais irônico que possa parecer, a aproximadamente 25° de latitude sul), a temperatura mínima foi de 10°C, o que, apesar de faltarem menos de 10 dias para o Natal, me permitiu "matar as saudades" (e eu ponho entre aspas porque a verdade é que nem tinha dado tempo de ter saudades) da minha jaqueta de couro preferida. Fiquei também perplexa ao encontrar pessoas calçando botas ou vestindo japonas de nylon e casacos de lã na fila do empacotamento de presentes da Fnac, ontem de tarde, quando fui ao shopping comprar uns presentinhos. Tudo aquilo me lembrou aqueles filmes natalinos, clássicos norte-americanos; já que aqui, normalmente, o Natal é acompanhado de muito ar-condicionado, suor e mosquitos.
Hoje, não sei explicar por que, é dia 17 de dezembro, são 3h da manhã, e estou acordada, com um frio do cão. Tudo o que me resta é ter esperança na volta do sol e do calor, e, enquanto eles não chegam, tentar enfiar na minha cabeça que frio é psicológico. Acreditar genuinamente nisso não só me ajudaria a dormir agora, como também pode ser bastante útil quando eu tiver que enfrentar os habituais grauzinhos abaixo de zero dos fevereiros parisienses.
Éee... Em consideração ao meu não-realizado-desejo-do-meio-do-ano, Paris que me aguarde! Fevereiro está chegando. E, mesmo se eu não conseguir engolir essa história de frio ser psicológico até lá (o que é extremamente provável), tenho certeza de que a calefação francesa vai dar conta do meu frio, e de que a meia a mais, o cachecol e o moletom 2 tamanhos maior do que o meu poderão ser dispensados na hora de dormir.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

oh, well

É impossível acreditar que eu ainda me deixo sentir desse jeito.
E provavelmente mais impossível ainda acreditar que o causador de tudo isso é ele. Um garotinho desses. Com uma dessas camisetinhas, uns daqueles tenizinhos. Fazendo aqueles gestinhos imbecis quando tira foto.
É. Um desses. Com... Bem, uma mentalidadezinha dessas.

E o maior problema de todos é que eu não deveria nem ter começado com esses diminuitivos. Porque, agora, me lembrei também das pintinhas, daquelas pintinhas, e... e...
Ai.
Sou mesmo uma imbecil.

Uma imbecil mesmo. Porque além de tudo, me deixei esquecer qual era a real intenção da noite. Era a despedida da minha melhor amiga, e, apesar de eu saber que não é isso que realmente importa para ela, me sinto mal.
Só temos mais 10 dias juntas, e, como quando me dei conta que o pão-de-mel que ganhei de natal tinha acabado e que eu o tinha devorado sem lhe dar a devida atenção; me sinto burra.
Acabou. E eu nem tive chance de aproveitar.

domingo, 12 de dezembro de 2010

swallow the key

Antes das minhas férias começarem e da pontualidade do meu relógio biológico (que, apesar de eu estar tentando mudar esse quadro, é, normalmente, a única pontualidade que eu tenho) ser estragada por completo, o que eu mais queria, praticamente todos os dias, era conseguir dormir antes das 22h. E eu nunca conseguia.
Agora são 02h28 da manhã, e, como, desde que a menina pela qual o narrador era apaixonado morreu, eu pseudo-abandonei a leitura de Looking For Alaska; acabei de desligar o computador. Utensílio que, pelo menos hoje, teve fins sutilmente mais interessantes do que quando me deixo passar horas e horas descobrindo as mais indescritivelmente inúteis coisas, como qual príncipe da Disney é meu par ideal (Fera) ou qual cor é a minha aura (azul). Ao invés disso, eu, hoje, passei o período entre as 23h e as 02h17 relendo a maioria dos posts do meu blog. Blog que, mesmo tendo pouco menos de um ano de existência, me permitiu perceber algo quem sabe imperceptível aos meus milhões de leitores: o quanto eu evoluí nesse período de tempo.
Foi só algum tempinho atrás que percebi o quanto a escrita, quando não tem função informativa (ou quem sabe até então), é inconscientemente hipócrita, e não consegue retratar a realidade da maneira na qual eu, ingenuamente, sempre acreditei que conseguia. Assim como quando me deparei com uma mãe convertida ao espiritismo e incapaz de me consolar, ou com um garoto de 16 anos que não age como um homem, e sim como um garoto de 16 anos (como há de se esperar...), perceber isso foi uma grande decepção. O que parcialmente justifica o fato de eu não ter escrito nada por aqui desde aquela grande decepção amorosa, aquela, proporcionada por ninguém menos do que o garoto-de-16-anos-que-age-como-tal.
Bem, só sei que agora estou aqui. Já passam das 3 da manhã, e estou querendo chegar a algum lugar, por mais confusa que essa tentativa de volta à escrita possa estar saindo. Acredito que, se isso fosse uma redação (aliás, que inesperado que é sentir saudades das redações semanais da escola, e até daquele desejo inatingível de dormir antes das 22h todos os dias), eu perderia muitos pontos no quesito Coesão e continuidade. É que o que eu queria mesmo, depois de reler tantos textos e de relembrar todos os momentos que eu, hipócrita ou não-hipocritamente, descrevi aqui, era registrar, da maneira mais verdadeira possível, o quanto estou bem e o quanto estou orgulhosa de mim mesma por tudo o que conquistei nesse período de pouco mais de um ano.
Eu, apesar das dificuldades, decepções, dramas e infantilidades (afinal, sou só uma garota de 16 anos), estou bem. Daqui a pouco vem 2011, e eu continuo aqui, tentando, com a maior boa vontade, driblar não só a grande mentira que pode ser escrever, como também a grande mentira que pode ser viver.
E é isso aí.

"I'm gonna make it, make it better
I'm gonna get the best and lock it up and
swallow the key"

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"The next day, Dr. Hyde asked me to stay after class. Standing before him, I realized for the first time how hunched his shoulders were, and he seemed suddenly sad and kind of old. 'You like this class, don't you?' he asked.
'Yessir.'
'You've got a lifetime to mull over the Buddhist understanding of interconnectedness.' He spoke every sentence as if he'd written it down, memorized it, and was now reciting it. 'But while you were looking out the window, you missed the chance to explore the equally interesting Buddhist belief in being present for every facet of your daily life, of being truly present. Be present in this class. And then, when it's over, be present out there,' he said, nodding toward the lake and beyond.
'Yessir' "
- Looking for Alaska