domingo, 20 de março de 2011

"un pepsi et un sandwich au poulet, s'il vous plaît"

Hoje, lá por umas 10h15 da manhã, enquanto escovava meus dentes e me preparava para o exame de sangue que meu ginecologista - preocupado com a falta de vitamina B-12 que meu recém adquirido vegetarianismo está sujeito a proporcionar - solicitou que eu fizesse, senti uma leve ânsia de vômito.
Minha última refeição tinha sido uma fatia de pão com geleia, que comera enquanto assistia ao último episódio da novela Tititi ontem à noite. Isso fazia do meu jejum levemente mais longo do que as 12 horas que me tinham sido exigidas para o exame de hoje.
Minha vontade de comer era nula. Meu corpo, porém, por meio de roncos nada discretos vindos da região abdominal e daquela ânsia que não ia embora de jeito nenhum, estava precisando e pedindo por um outro pãozinho com geleia, ou por qualquer outra coisa que conseguisse preencher aquele vazio. Enquanto calçava minhas botas (não está um frio propriamente dito ainda, mas eu já estava com saudades de usar roupas de inverno) e sentia mais uma pontada na barriga, fui surpresa ao me lembrar de um dia passado ao lado do meu ex-namorado, há quase 4 anos.
Era um dia ensolarado, mas estávamos, não me lembro exatamente por que, no shopping. Me lembro perfeitamente de como passamos horas e horas na Fnac, abraçados, olhando e escutando CDs; de ele ter tirado, como sempre o fazia, sarro do fato daqueles fones serem tão desproporcionais ao tamanho da minha cabeça; e de ter tido de convencê-lo a não comprar mais um CD, apesar desse, no quesito compras, ser não só o ponto fraco dele, como também o meu.
Naquele dia ensolarado que tínhamos decidido passar no shopping, me lembro de ter tido uma fome enorme e de ter sentido a mesma ânsia de vômito que senti hoje pela manhã. A cena de nós dois correndo de mãos dadas pelo shopping procurando algo suficiente bom para almoçarmos ainda me é clara, e me dá saudades.
Por um momento, sentada no chão do meu quarto com um pé com bota e outro não, senti-me triste, amarga e sozinha. De repente me vi sentindo demais a falta do meu ex, sentindo demais a falta de alguém que me amasse; alguém que pegaria minha mão assim, para procurar o que comer no almoço ou para qualquer coisa que fosse. Lembrei-me de como, nesse dia, nós dois tínhamos decidido comer meu sanduíche de frango preferido na praça em frente ao shopping, e do fato de termos ficado sentados por um bom tempo num banco, olhando o movimento, derrubando os tomates do pão e tomando Pepsi.
Depois do meu pequeno momento de carência matinal (que fora provavelmente proporcionado pelo volume de estudos que esse ano me está exigindo. Eu já tinha sido alertada sobre a carência dos vestibulandos), enquanto calçava o outro pé da bota, me veio à lembrança outro momento; dessa vez, de menos de um ano atrás, da época em que estava apaixonada por meu melhor amigo.
Eu, ao mesmo tempo que passava a manhã toda envolvida com ele - ou falava com ele ou sobre ele -, me recordo sentir-me extremamente diferente, quando saía das minhas práticas de Yôga, à tarde. Sim, todas as manhãs eram praticamente iguais, e me faziam apaixonar por meu amigo mais e mais. (Rimou) Todas as tardes, no entanto, também acabavam sendo semelhantes umas às outras, porque me faziam perceber que, na verdade, eu estava perfeitamente bem sozinha, e não precisava de ninguém.
É estranho pensar em como não só eu, mas também as circunstâncias da minha vida mudaram. Apesar do post em que falei sobre o Yôga e sobre como ele me faz bem, aquele grande volume de estudos mencionado acima andava me impedindo de praticá-lo, e é incrível como isso tem perceptibilíssimos (como diria minha avó, que adora inventar palavras no aumentativo como lindississíssimo) efeitos colaterais.
Por algumas semanas um momento, me permiti esquecer o quanto é bom ser independente e ter a mim mesma. Me permiti esquecer de cuidar de mim mesma - contrariamente ao que eu disse esses dias - e também esquecer do fato de que, agora, tudo está diferente. As coisas não poderiam ser iguais nem se ainda morássemos no mesmo país.
O que realmente acontece é que aqui estou eu, escrevendo redações sobre os problemas sociais do meu país, enquanto ele voltou a viver em seu país escandinavo com um dos maiores IDHs do mundo. Vale também lembrar que, agora, eu não só não tomo mais refrigerante, como também sou vegetariana, e não como mais frango. Almoço sozinha vários dias da semana, baixo CDs inteiros pela internet sem pagar nada, fico com um monte de caras aleatórios na balada e posso afirmar que, pelo menos por enquanto, não há nada de errado com isso.

5 comentários:

  1. Deep gal!
    Aposto que lá o ex escreve textos dos nosso problemas.. :P
    Percebe que já é uma pessoa completamente diferente desde três meses atrás?
    Ao autoconhecimento, e suas perspectivas todas especias. Viva!

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  2. gostei do blog, mas gostei principalmente de saber que você está fazendo yôga!....lembro que estava relutante a iniciar as aulas. beijos bruno

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  3. :) te amo, vevis, que bom que você anda escrevendo no seu bloguinho

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  4. adoro entrar aqui e ver novos posts!! escreva mais vezes!!!!!!!

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