domingo, 9 de outubro de 2011

Diferentes perspectivas sobre pássaros tem, curiosamente, rondado minha cabeça nesses últimos tempos.
O Tiziu, meu cantante e amarelíssimo canário, foi o único animal de estimação que eu tive na vida, e morreu quando eu tinha 8 anos de idade (De fome. Longa história). Pássaros sempre foram os animais com quem mais simpatizo, e que mais estiveram presentes ao longo da minha vida; desde os pombos que se alimentam nas ruas pelas quais ando até os quero-queros cujas pernas compridas e elegantes eu, sempre de longe devido ao perigo que eles são ditos proporcionar a quem se aproxima de seus ninhos, admiro.
Uns tempos atrás, andando na rua preocupadíssima com o alinhamento do Sol, do cometa Elenin e da Terra, o que supostamente causaria um grande terremoto e chegaria a alterar o norte magnético do nosso planeta, vi um passarinho procurando um material que eu desconheço para construir seu ninho. Ele próprio, para falar bem a verdade, provavelmente também desconhecia o material que devia estar  juntando com seu humilde bico. Eu, com meus polegares opositores bem relaxados, observando a cena de uma certa distância, invejei-o por, além de conviver tão bem com toda essa ignorância, tanto a respeito do material do ninho quanto do cometa Elenin, saber o mais importante: o que ele devia estar fazendo naquele momento.
Uma semana depois, sentada no ônibus ouvindo Rita Lee em um dia de sol, ser humana voltou a me satisfazer por completo. Planejando passar no mercado antes de ir para casa, pensei, lembrando do dia em que invejei um passarinho, sobre como o fato de eu poder conscientemente apreciar o sol, andar de ônibus, ter um iPod e fazer um sanduíche com muitos ingredientes quando chegasse em casa me deixava feliz, enquanto um passarinho, na sua feliz ignorância, nunca teria nada disso.
Hoje de manhã, sentada à mesa da cozinha enquanto me lembrava da noite passada, a situação estava bem diferente. O dia estava cinza, e minha solidão, palpável, me deixava absurdamente triste. O nó na minha garganta não fazia do meu pão com geleia muito agradável, e o iPhone que eu tinha nas mãos, apesar de inventado por Steve Jobs para ser um instrumento que interliga mais facilmente as pessoas, não conseguia mudar em nada o quão indescritivelmente sozinha eu me sentia. Olhando a chuva pela janela com lágrimas nos olhos, de repente avistei um passarinho, se protegendo embaixo do guarda-sol do jardim. Olhando ele ali, sozinho, observando o mundo ao seu redor e se protegendo da chuva como eu, finalmente percebi o quanto, apesar das milhões de diferenças, ainda podíamos ser iguais.

O fato de o único animal de estimação que tive na vida ter estado preso em uma gaiola sendo admirado de longe diz mais sobre mim do que pode parecer.
Admirar pássaros é fácil. Eles cantam, constroem ninhos para cuidar dos filhos, conseguem voar e têm penas bonitas e coloridas. Além disso, é fácil aceitar as diferenças entre nós e eles, já que somos espécies completamente diferentes.
E admirar pessoas? Aceitar as diferenças que existem dentro dessa nossa complexa espécie é uma das maiores dificuldades que sinto ter. (Eu e a torcida do Flamengo. É só você lembrar das manchetes absurdas que seguimos vendo nos jornais.)
Como podemos ser eu e meu próprio irmão, que nasceu da mesma barriga e foi criado na mesma casa, tão diferentes um do outro? E como podemos, sendo os animais que somos, não saber e não ter aprendido a lidar com isso ao longo de nossas vidas?
A variabilidade genética é um artifício usado pela natureza para ajudar a perpetuação das espécies. Por que essa nossa birra contra ela?
Em nossas variações de cores, aparências, classes sociais, pesos, gêneros sexuais, orientações sexuais, opções alimentares, religiões (ou falta delas), nacionalidades, etnias e gostos; encontramos naturalmente a necessidade de nos agrupar. Mas será que o repúdio e o ataque aos demais grupos é igualmente natural?
Hoje de manhã, me sentindo um one-(wo)man-group, pensei em todas as minhas atitudes de repúdio e intolerância para com os outros; e me odiei por isso. Eu não sou, como feliz ou infelizmente constato todos os dias, um animal, e minha consciência e razão deveriam falar mais forte do que qualquer coisa.
O que é acontece, no entanto, é bem diferente.
Essa solidão que tem me afetado tanto nas últimas semanas é um claro reflexo da ilusão à la Vanilla Sky que gosto de viver. Não sei direito como reagir quando a vida de verdade tenta se manifestar, e construir paredes que não me deixam efetivamente enxergar ninguém parece sempre ser a melhor opção.
E é mais que óbvio que não é. Percebo agora o quanto a música da Rita Lee que eu ouvia naquele dia de sol no ônibus fala sobre mim. Sobre como estou bem comigo mesma, e sobre como "agora, só falta você".
A verdade é que há vários vocês em minha volta, e tenho consciência de que são minhas as atitudes que têm que mudar para suprir essa tal falta. Sem ter que achar obrigatoriamente um ponto em comum para conseguir apreciar alguém, diferentemente do passarinho hoje de manhã, quero genuinamente conseguir conviver com as diferenças.
E que bom que um não tão belo dia, resolvi mudar.




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