terça-feira, 18 de outubro de 2011

minha leiga, humilde e contente opinião

Sou do tipo de garota que procura melhorar as coisas. 
Melhorar a mim mesma. Melhorar o ambiente em que eu vivo. Melhorar a convivência, em qualquer aspecto que seja, das pessoas com quem convivo. 
Quando na França, sempre me candidatei a "presidente da classe", e, por dois anos consecutivos, fui de fato eleita. A sensação que eu então tinha (nem que falsa), de que podia fazer a diferença, foi o que fez, sim, uma diferença na pessoa na qual acabei me tornando. Estar de volta ao Brasil, em uma escola na qual pagava-se uma mensalidade absurda e não se tinha nenhuma voz (no auge dos meus 13 anos de idade, jogar isso na cara da diretora em frente a todos os outros alunos fazia eu me sentir o máximo) explicitou esse novo aspecto de minha personalidade. Explicitou o quanto, apesar da escola não estar me fornecendo a possibilidade de dar aos alunos uma "voz", eu insistia em tentar falar alguma coisa. Por questões na maioria das vezes insignificantes e simbólicas, mas, mesmo assim, falar alguma coisa. 
Aos 15 anos, sem querer humilhar ninguém na frente de quem quer que fosse, costumava frequentar a sala da diretora e discretamente lhe questionar: por que não incentivar os alunos a falar? Por que educá-los, já desde cedo, para viverem calados? 
Foi nesse ano que esclareceu-se em minha mente o motivo das greves não serem comuns no Brasil. O motivo dos "panelaços" serem "coisa de argentino", e de manifestações serem consideradas coisa de "vagabundo" que não quer trabalhar. Mas experimente ter 15 anos, em uma sala de aula pela qual ainda circulam bolinhas - tanto de papel quanto de sabão - em plena aula de física, e, ainda assim, ser levada a sério. 
"Acho muito legal sua atitude, Giovana", me dizia ela, sempre. "Vamos ver o que podemos fazer".  
No ano seguinte, diante de uma mudança indesejada no sistema de tarefas da escola, enviei uma carta à diretora. Fui chamada a sua sala. 
"Acho muito legal sua atitude, Giovana. É assim mesmo. E, ó, vamos ver o que dá para fazer."
Então tá bom.
Esperei.

Esperei.

Aceitei. Me acomodei. Desisti. Percebi que "as coisas são assim mesmo", e que não sou eu que vou fazer a diferença.

Passei, depois disso tudo, muito tempo ouvindo minha melhor amiga, saudosista, discursando sobre como a geração dos anos 60 era incrível, e como ela queria que os jovens de hoje fossem às ruas e "lutassem pelo que querem". O que me vinha à mente ao ouvir isso, porém, eram todas as minhas  falhas tentativas de mudar as coisas, além de um bando de hippies drogados fazendo com os dedos sinais de "paz e amor". 

É incrível, felizmente, como, algum tempo depois, tudo pareceu mudar. Minha família, a escola e os jornais da TV pareciam não estar dando o devido valor; mas no começo do ano, as intenções conjuntas de gente de boa índole de todos os cantos do mundo começou a surtir efeito, por meio da internet. E surgiu o WikiLeaks,   e hackers sabotando quem eles diziam merecer, e ditaduras caindo, uma atrás da outra, na tal da Primavera Árabe. Ao longo do ano, mensagens em minha página inicial do Facebook chegaram me convidando para manifestações, desde Anticorrupção até a "Marcha das Vadias". Não sei se as pessoas criaram uma voz, perceberam que a tinham ou se fui eu que obtive, enfim, a maturidade necessária para ter a percepção lúcida de tudo o que de fato acontecia à minha volta. Mas, quando percebi, já estávamos aqui, diante de uma manifestação de proporções a algum tempo inimagináveis contra a crise no sistema financeiro mundial.
Sou uma leiga da economia - até porque minha escola, além de não ter me instigado a dar valor ao poder da minha voz, não me ensinou absolutamente nada sobre finanças  -, mas tenho procurado me informar. Tenho procurado entender, e, acredite, não tem sido fácil, visto que nem ao menos tive um cartão de crédito na vida.
E o que eu entendo - que, honestamente, não é muito - é que tudo isso é lindo.
Passei tanto tempo ao longo do ano tendo discussões deprimentes com meu avô em almoços de domingo, falando sobre mobilidade urbana, o impacto que o consumo de produtos de origem animal tem no planeta e (sim) a crise econômica que pareceu vir à tona aos meios de comunicação aos quais tenho acesso. Ia embora desses almoços, porém, desolada. Pensar no quanto as pessoas que "realmente têm poder de mudança" só querem ter mais dinheiro e mais poder e não se importam com nenhuma das coisas que julgo importantes me deixava indescritivelmente triste, e a sensação de inutilidade diante de tanta coisa ruim e mais coisa ruim é simplesmente inevitável.
Vendo movimentos como o do Occupy Wall Street e lendo discursos como o do filósofo esloveno Slavoj Zizek, no entanto, o inevitável é que um sorriso grande se abra no meu rosto. Estar finalmente vendo minha geração agir e usar sua voz para mudar o que está comprovadamente errado é uma sensação incrível.
É verdade, como também tenho lido por aí, que a manifestação é um tanto quanto vaga, quando se fala de propostas; e que, como diz Zizek em seu discurso, ainda não chegamos ao momento de dizer o que de fato queremos. Mas dizer o que não queremos já é um passo gigante para que cheguemos a isso. Ver a maioria querer jogar na cara da poderosa minoria o fato de 99% também ter o seu poder, um grande poder, só pode ser descrito por uma palavra como estupefante. Acredito que os ocupantes de Wall Street e de tantas outras cidades do mundo estão, assim como eu estive aos 13 anos, estupefatos com a ideia de ter uma voz. Mas, diferentemente de quando eu queria expor fatos inusitados na cara da diretora da minha escola sem motivos fixos, acho que o que mais assusta, impressiona e estupefata a quem agora está impondo sua voz é a ideia de que grandes mudanças podem de fato estar se aproximando.



5 comentários:

  1. As redes sociais estão mudando muito isso no Brasil. Realmente não viamos tantas movimentações há 5 anos.

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  2. "Acho muito legal sua atitude, Giovana. É assim mesmo. E, ó, vamos ver o que dá para fazer"!!!
    Se precisar de mais volume para sua voz, pode contar com seu leitores..
    beijos vários

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  3. concordo com a ju! antes, só ouvíamos dos males das redes sociais, mas agora elas realmente estão fazendo uma diferença, especialmente porque quem usa mais as redes sociais são os jovens da nossa geração. (:

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  4. ahh, e: http://www.youtube.com/watch?v=KrkwgTBrW78

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