sábado, 3 de dezembro de 2011

"Entre brados anticapitalistas, e pragmáticas sugestões de novos sistemas de taxação progressiva, um rapaz pede a palavra. Seu nome é Ross Wolfe. E depois de três semanas frequentando a praça, ele traz um diagnóstico:
'Vejo a insistência no número de 99% como fator que nos une. Mas o que seria o triunfo desse movimento? Para mim, a capacidade de separar o sintoma da doença. De enxergar além da má distribuição de renda e avaliar até que ponto estamos dispostos a questionar concepções sociais de longo alcance. Se quisermos revolucionar, união não basta. Temos que assumir que perdemos a capacidade de imaginar uma sociedade realmente diferente'.
A força da conclusão de Ross traduz o abismo que separa a OWS da real Wall Street. Por mais que a indignação seja justa, a construção orgânica dos passos da ocupação por definição não apontam um modelo de mundo factível na mentalidade do presente. Vi pessoas desafiando o bloqueio policial de uma rua com raps improvisados e dançando 'I Will Survive' cantado em coro. Mas não li um manifesto de como organizar a sociedade em um mundo pós-capitalista. Em uma madrugada, quando acordei com a chuva em meu rosto, alguém me cobriu com uma lona. Mas não escutei nenhuma proposta de como alimentar 7 bilhões de pessoas em um planeta em crise climática. Tantas propostas claras para uma sociedade diferente foram tentadas no século passado. Mao, Stalin, Hitler, Khomeini, Nixon, Reagan, Bush I e Bush II. Todos arrebanharam milhões em torno de uma visão mais democrática de futuro. Muammar Kadhafi escreveu uma cartilha propondo um sistema de 'democracia direta', baseada em assembleias populares. Deu no que deu...
Quando vi a verdade no argumento de Ross, de que eu, e talvez ninguém por ali, era capaz de propor ou imaginar uma sociedade diferente, tentei não sentir medo daquela imprecisão. Me pareceu melhor confiar mais nos biólogos do que nos teóricos políticos. Abelhas, peixes, pássaros não têm planos nem ilusão de controle. Mas colmeias, cardumes e bandos funcionam como sistemas quase perfeitos a seus indivíduos. Comecei a ter fé de que um mundo realmente novo seja o efeito emergente daquele superorganismo que começava a infestar cidades no mundo."

- Bruno Torturra Nogueira, em reportagem à Trip sobre o OWS.

2 comentários:

  1. Nossa.. por um momento de distração estava achando que você escreveu isso. Lá pelo último parágrafo eu já estava: "Meu Deus! Ela já está escrevendo assim!??".. hehe
    Ótimo texto de qualquer modo.
    bjs

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  2. mr. lion, um dia vou escrever assim. mas como você quer que eu consiga agora, de férias em curitiba, alienada a ponto de ter passado uma tarde na piscina ouvindo as amigas fofocarem sobre pessoas que eu nem conheço? um dia, um dia serei foda

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