segunda-feira, 28 de novembro de 2011

pequena epifania veraneia

Eu andava por uma de minhas ruas preferidas, numa tarde de Sol em que tanto as buzinadas quanto os pedreiros, longe de me incomodar, alimentavam e agradavam mais do que eu julgava possível o meu já-muito-bem-alimentado-ego. Tinha passado uma tarde agradabilíssima lendo e superando a mim mesma em minhas práticas de Yôga, e me sentia forte, leve, capaz.
Com os fones do meu iPod no ouvido, a bolsa sobre o ombro e uma garrafinha de água na mão, foi no momento em que a habitual coceirinha que eu sinto quando começa a fazer calor se manifestou que eu tive uma maravilhosa epifania: se eu estou tão bem, aqui andando sozinha pela cidade, e sou flexível o suficiente para coçar minhas próprias costas de maneira tão satisfatória, então é realmente isso - eu não preciso de ninguém.


Pra Te Acalmar by Marcelo Camelo on Grooveshark

Dedico hoje, nesse outro dia gostoso de quase-verão, essa música a mim mesma. Isso porque sei que seremos muito felizes, eu e eu mesma, dançando e nos coçando ao som dela por aí.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

decisions, decisions...

A gente tem, curiosamente, momentos e cenas dos quais se lembra com mais lucidez que outros. Não necessariamente eventos, do estilo casamento, aniversário, natal, réveillon - mas momentos aleatórios de nosso dia a dia, que acabam, por um motivo ou por outro, sendo guardados em algum compartimento especial da nossa memória.
Me lembro exatamente, por exemplo, de como me sentia quando deitava na sala de TV da casa em que morava na França. A textura e a cor do sofá; o escuro que, apesar de parcialmente iluminado pela televisão, me dava uma tranquilidade boa; e a lareira, no cantinho direito da sala, abarrotada de porta-retratos.
No inverno de 2007, depois de voltar - bronzeadíssima, já que, por aqui, era verão - de férias no Brasil, liguei a TV e o DVD e deitei-me naquele sofá, enrolada em uma coberta que nem um charutinho (como já diria minha mãe).
Estava prestes a assistir, pela primeira vez, a Maria Antonieta, filme que, dirigido por Sofia Coppola em Versailles, a menos de 20 km de distância da minha casa; ainda estava em cartaz nos cinemas franceses, mas tinha sido comprado por mim no camelô de Balneário Camboriú por aproximadamente 15 reais.
Nessa época, estava de paquerinha (uhuhu) com um sueco que fazia espanhol com uma amiga minha. Apesar, no entanto, de nossas conversas no MSN (cujo histórico eu salvava e gostava de ler em momentos de tédio) e trocas de CDs, não estava muito certa sobre ele.
E foi por isso que, deitada no meu sofazinho antes de o filme começar, fiz uma aposta comigo mesma, como já me era de costume: se, neste filme, houver algum tipo de sinal que me lembre do meu sueco, continuo com essa história. Se não, bola pra frente.
O desenrolar da trama acabou me fazendo esquecer da aposta. Mais tarde, porém, foi lembrando de acontecimentos do filme que voltei a me lembrar dela. O drama de Sofia Coppola tinha mostrado o caso que a rainha austríaca da França teve com o conde Fersen, do exército da Suécia. É. Sortudo, aquele meu sueco. Porque aquele caso, que só trouxe mais polêmica em torno daquela que foi uma das mais odiadas rainhas de todos os tempos, foi um fator essencial na minha decisão de levar nossa história para frente.

Com infinitas vezes mais lucidez, lembro-me da tarde de hoje. Lá fora chovia, e eu, deitada na cama já de pijama e com mais meias do que o que se consideraria normal, assistia a um filme na TV. Sem ter feito nenhuma aposta (além de uma possível aposta inconsciente - "duvido que você coma mais torta do que você deveria"), não fiquei esperando sinais que fossem me lembrar de alguém. Mesmo assim, quando o filme acabou, me peguei lembrando do dia em que assisti a Maria Antonieta pela primeira vez.
Eu não tinha ficado, de fato, esperando por um sinal enquanto assistia, hoje, àquele filme da TV. Mas o fato de eu tê-lo passado inteirinho pensando em você é o sinal mais explícito de que há, em minha vida, uma decisão a ser feita. Continuo com essa história - ou bola pra frente? 

domingo, 6 de novembro de 2011

isto e isso e aquilo, e mais aquele lá

(Inspirado na "grotesca metáfora" do post anterior e em um dia-de-limpa-no-armário)

Uma vez a cada ano, preferencialmente nas férias, é dia de faxina: tira-se tudo do armário, observa-se tudo fora dele (com certo espanto) e faz-se aquela seleção de coisas, aquela limpa, que parece esvaziar um pouco mais a casa ao mesmo tempo em que preenche um pouco mais o tempo a alma.
É no desenrolar desse processo que a gente tem a possibilidade de, mesmo inseridos nesse capitalismo maluco onde ter e comprar nos são constantemente impostos, perceber e admirar a beleza e o prazer de se livrar de nossas coisas. E parece que é mesmo só ali, no momento em que está tudo exposto e bagunçado, que podemos realmente encará-las de frente: as nossas coisas.
Palavra que sempre me pareceu vaga demais, "coisa" é de fato o que melhor expressa o que se vê diante de cenas como a pilha de roupas, sapatos, bolsas, livros, CDs e apostilas que há pouco faziam do meu quarto intransitável.
São, sim, só coisas.
Mas por que guardamos tantas? Por que queremos tantas?
Por muito tempo julguei ser esta uma questão de ego, de afirmação da própria personalidade.
Mas ao passar dos anos, das faxinas e dos pseudo-entendimentos das crises mundiais, a gente muda de ideia a respeito das coisas. A respeito da importância e da suposta necessidade de todas essas tão abundantes e vagas coisas.