domingo, 5 de fevereiro de 2012

O que vem por frente

Em mais um táxi transitando por São Paulo num final de tarde qualquer, enquanto o motorista (Elvis) discursa sobre trânsito e problemas no transporte público, eu passo minha cera-hidratante-para-cutículas em cada unhinha da mão e sorrio. Meus dedos estão cheirosos, o ar-condicionado está ligado (o que, apesar da minha rinite, nesse calor é um alívio) e nós já chegamos na Augusta, rua onde o primeiro dia do curso de férias para o qual me inscrevi me aguarda, só não tão ansiosamente quanto a USP (que terá, coitadinha, de pacientemente esperar até 2013).

"E você veio de Curitiba só para fazer o curso?", perguntavam todos os paulistanos-e-habitantes-de-São-Paulo.
Vim.
Quer dizer, o curso foi um pretexto. Mas, como diria meu pai - que é gaúcho -, foi um baita de um pretexto.
Trabalhar um pouco minha "Escrita Criativa" com uma das colunistas de que eu, que nem sou tão culta assim, mais gosto - Milly Lacombe -, já seria bom demais. Mas esses cursos legais nunca acontecem em Curitiba, e é justamente por isso, além de já ser bom demais, que ele acontece em São Paulo, na Escola São Paulo, onde já estou, fazendo piadinhas e me apresentando aos meus colegas.
(É meu artifício para esconder emoções-extremamente-escondíveis, o que é o caso da vergonha e do nervosismo desse momento: piadinhas, piadinhas e mais piadinhas - a maior parte delas, eu lamento, ruins.)
"Ah... Eu estava entediada em casa, sabe... Quis dar uma passeada", respondo aos paulistanos-e-habitantes-de-São-Paulo. Sem dizer toda a verdade, e ao mesmo tempo sem mentir.
Eu vim pela cidade.

O tédio e a falta de emoção fizeram com que os últimos dias passados em Curitiba antes disso tivessem como preocupação-principal a leitura dos ingredientes de todas as comidas que vêm em saquinhos com rótulos. Cortar completamente a lactose de minha dieta, nem que por 10 dias, não é mole não. Aliás, nem por quatro não é, sendo esse o lamentável número de dias em que realmente consegui a proeza (que tinha como objetivo um estudo relacionado à minha adorada gastrite).

O que eu acabei descobrindo (e isso, obviamente, de maneira alguma se deve aos míseros e esforçados quatro-dias-sem-lactose), é que estava sentindo falta de momentos que, de tanto nervosismo, afetam minha gastrite. Falta de momentos que afetem meu estômago e que façam meu corpo inteiro tremer, de tanta ansiedade.
Enfrentar algo novo - ou, de uma maneira nova, enfrentar o velho - é grandioso, e, ali (com ou sem piadinha), me apresentando para todas aquelas pessoas novas naquele lugar completamente novo, não me importava mais com as gastrites, com as outras ites ou com qualquer consequência disso.
Eu estava ali por vontade própria. Na cidade em que eu queria estar, fazendo o que eu queria fazer e, até então, acompanhada principalmente por Elvis, o taxista, mas prestes a passar também um tempo simplesmente com quem eu queria que me acompanhasse.
E o que pode ser melhor que isso? Melhor que poder escolher tudo isso?
Que se fodam todas as ites, o leite, seus derivados, o tédio, a programação da Globo News e minha vontade de não estar acompanhada. Ali estava eu, escrevendo histórias, ouvindo histórias, e vivendo muitas das que teria depois para contar.

Como em uma das duas únicas vezes em que traí Elvis, o taxista, e um baiano simpático me levou do Morumbi à Vila Olímpia, numa tarde chuvosa. Eu olhava pela janela, pensando na vida, quando percebi que ele estava cantando. Não pude conter o riso, e ele, o sorriso, que vi pelo retrovisor.
"Essa é a música que a gente canta, lá no sertão lá da Bahia, quando faz tempo que não chove."
Eu sorrio de volta. "De onde eu venho, não tem música assim não. Lá tem tanta chuva que a gente devia aproveitar e doar um pouquinho para vocês."
Ele não para de sorrir. "Cara, esses baianos," penso comigo mesma, "são sensacionais."
Conversamos um pouquinho sobre nossas cidades natais, tão diferentes uma da outra, e ele, quando o silêncio ameaça voltar, começa a cantar de novo. E muda constantemente de música, buscando com esforço em seu repertório letras que tenham a ver com chuva.

Estou feliz por ter conhecido tanta gente legal, ouvido tantas histórias boas e visto que uma nova realidade na minha vida é, sim, possível.
Conversei com pessoas experientes e com outras não-tanto-assim, passei um tempo longe dos meus pais e decorei, em contraste à Globo News, toda a programação das 14h às 18h no Discovery Kids, deitada no sofá com meu primo paulistaninho de dois anos, entre uma apertada-naquele-bumbum-gotoso e outra.

E como a vida é boa. E, apesar de estar de volta em Curitiba, como eu vou me esforçar para que ela continue sendo.

Uma das músicas cantadas pelo motorista baiano naquela tarde chuvosa

4 comentários:

  1. amei o novo post! voce é maneira, te love, bju na bunda da sua fã numero 1

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  2. muy bueno, geovevis, Lechuga estaría orgulloso

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  3. gostei muito muito muito desse post! talvez seja um pouco por meu amor pela cidade de São Paulo, haha. e percebi um pouco de diferença no seu estilo de escrita, acho que o curso lhe fez bem (: beijos!
    ahhh e mais um comentário: curti a musiquinha!

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  4. Bom post.. Adorei a música!
    Mande seu blog para a Milly!

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