domingo, 4 de março de 2012

Reflexões dominicais de uma mente cansada

Em Curitiba, em um dia quente de verão como ontem, chega a ser difícil acreditar no quanto é difícil estacionar o carro em qualquer um dos shoppings da cidade.
Mas é.
E o mais difícil nem é isso. O mais difícil, na verdade, acreditar no quanto as pessoas que estão ali, na tentativa de achar uma vaga, se mostram irritadas e mal-educadas; buzinando, xingando, berrando e fazendo gestos obscenos para qualquer pessoa que incomodar mais ainda a tarde terrível que eles estão tendo, ai, procurando um lugar para estacionar no shopping.
Não sei sobre a vida dessas pessoas, muito menos o que elas costumam fazer no shopping em um sábado à tarde. O que sei é que muita gente tem algum, qualquer que seja, costume fim-de-semanal lá, porque essa situação de stress-no-estacionamento se repete e se repete e se repete por tantas vezes que não consigo contar.
Nesse fim-de-semana, porém, rindo com as barbeiragens e dificuldades da minha recém-motorizada amiga Camila e auxiliando na hora de estacionar (na vaga que, surpreendentemente, encontramos rapidinho no Shopping Barigüi), ao me deparar com os berros de um motorista frustrado, acabei também me frustrando um pouquinho, contra ele, ao lembrar e automaticamente comparar aquele momento com o meu dia anterior.

Vestibulando é foda. Se acha a pessoa mais injustiçada do mundo. E com certeza, com não um pouco, mas com muita razão. Não vou ficar aqui discursando sobre os problemas educacionais do país nem nada - até porque estou longíssimo de ser uma autoridade no assunto - mas o sistema utilizado aqui para ingressar em universidades é a tortura decorebística mais ridícula da qual já ouvi falar. E eu, apesar de adorar o aspecto de ter o estudo como uma constante não só na minha, como também na rotina da maioria das pessoas que estudam comigo (até na daqueles caras bem bonitinhos que até ontem não sabiam o que é notação científica); entro nessa onda de sou-uma-vestibulanda-injustiçada sem nem perceber.
Passo a semana estudando um monte, e gosto. Presto atenção em todas as aulas, e, nossa, como eu gosto. Meus professores são muito inteligentes, e no final de toda manhã meus dedos acabam doídos, de tantas anotações que fiz, em qualquer cantinho em branco que encontrar na apostila. Mas, quando chega o fim de semana, a aula às 7 da manhã no sábado, os pais que não compreendem o meu cansaço, os almoços em que eles insistem em comer em churrascarias (mesmo já estando muito cientes de que não vou mudar de ideia sobre meu vegetarianismo); me sinto, sim, injustiçada. E, sim, é ridículo, mas estou só sendo plenamente honesta aqui. Só.
Ontem, diante daquele motorista irritadinho, além de pensar no quanto eu estaria felicíssima se tivesse um carro, lembrei, como já disse, do dia anterior.
Sexta, fim da primeira semana de aulas, e, à tarde, na sala de estudos da escola, estava totalmente mergulhada na matemática C. Terminei mais uma página de exercícios, e, ao ver que tinha acertado todos, fiz uma discreta comemoração e resolvi levantar um pouquinhos os olhos, alongar o pescoço, beber uma aguinha, coisa e tal.
E foi então que vi: estava rodeada de gente. De muita gente.
Todo mundo ali, cada um mergulhado na própria apostila, nos próprios pensamentos e raciocínios, nos próprios sonhos que querem realizar. Minha amiga estava do meu lado, e fez uma careta tão ridícula que tive que rir. E tinha tanta gente rindo ali, discretamente, para não atrapalhar os outros, mas rindo. Às 17h30 de uma tarde de estudos praticamente sem pausa, enquanto lá fora o Sol estava de rachar.
E a gente ali. E a gente rindo. E a gente feliz. Cansado pra caramba, , mas feliz.
Tão diferente daquele motoristinha estressado do shopping.
Tão diferente.
A gente sabe o que quer. A gente está ali não só porque pode, como se permite lutar pelo que quer. Apesar dos momentos de fraqueza e autopiedade, temos todos consciência de que a escolha foi nossa. Nós queremos algo não tão fácil. Queremos enfrentar uma tortura decorebística.
E estamos ali, dia após dia, um do lado do outro, mergulhando cada um na sua apostila, mas mergulhando juntos.
E felizes.

Enquanto aquele motoristinha, aquele pentelho, é um perdido. Indo fazer compras no shopping e berrando com os outros. Ui.

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