quarta-feira, 23 de maio de 2012

novo blog

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Não tem como, além de tudo, ainda fazer sentido

Não estava acostumada a acordar cedo no fim de semana (e veja só como o mundo dá voltas...), mas, mesmo assim, como eu estava apreciando caminhar pela Gutemberg, no sol forte do meio dia, depois de uma manhã de sábado cheia.
Caminhadas sozinha pela cidade me agradam. (Já mencionei isso, quem sabe, alguma vez?)
Mas, aquele dia, quem sabe pelo sono, pelo sol muito-mas-muito forte ou pelo fato de aquela ser, afinal de contas, a Gutemberg; foi especial.
A escola tinha organizado um fim de semana temático sobre orientação profissional, e, depois de 3 palestras super interessantes sobre as profissões mais promissoras dentre as oferecidas em uma lista um-tanto-quanto-promissora, eu tinha combinado de encontrar meus pais para o almoço.

Recém-completados 15 anos, aquele sol batendo no coco.
"O que fazer da minha vida?" "Psicologia parece legal." "Mas e arquitetura?" "Não, mas jornalismo..."
Um sorriso no rosto.
Preocupações?

Eu tinha tempo.
O que eu sentia, mesmo assim, era mais do que simplesmente "ter tempo".
Era ter a vida pela frente. Possibilidades. Incertezas. Caminhos desconhecidos. Novidades. Ansiedades.
Preocupações?

O tempo passou. Nem tanto, vou confessar, mas passou.
De repente, o tempo sumiu.
Possibilidades, incertezas, caminhos desconhecidos, novidades e ansiedades se veem ofuscadas, agora, por novas sensações que chegaram.
Preocupações.

Queria o tempo de volta.
Não voltar atrás, não avançar para frente.
O tempo, agora.
Queria ler, pensar melhor, ter mais tempo sozinha, ter mais tempo acompanhada.
Baixar umas músicas, aprender coisas engraçadas com meu avô, praticar minha coreografia de Yôga, escrever textos que me agradem.
Mas onde foi parar o tempo?

A parede em que colo meus resumos, pouquinho por pouquinho, está colorida e bonita.
Deito na cama antes de dormir e, tendo oficialmente abandonado a leitura de Memórias de um Sargento de Milícias, decoro mais um pouquinho.
Não a parede.

Queria um tempo para ler as longas e inúteis reportagens da Piauí. Ou as mais inúteis ainda colunas da Tpm. Queria um tempinho. Tem tanta coisa inútil por aí...

Hoje, andando pela Gutemberg, meus pensamentos eram tão diferentes...
Aquele salão da esquina é um roubo, mas minha sobrancelha ficou tão bonita da última vez...
Estou precisando fazer a sobrancelha.
Mas domingo tem simulado.
Sim, simulado.
Não tenho tempo de fazer a sobrancelha.

(atá)

É difícil ter aquela sensação de liberdade do sábado-na-Gutemberg-aos-15-anos.
Preciso me esforçar, por mais ridículo que isso possar parecer, para lembrar que ainda tenho toooooodas aquelas possibilidades.
Isso porque preciso me esforçar para fazer uma escolha.
Divulgam-se as datas dos vestibulares, daqui a pouco abrem-se as inscrições, e daqui a pouco lá estou eu.

Domingo tem simulado.
Sim, simulado.
E ele parece que vem só para me lembrar.

Me lembrar do poder que uma folha - simples, branca, A4, cheia de bolinhas pintadas por uma esferográfica azul - tem de me levar para onde eu quero.

Mas onde é que é isso, mesmo?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Reflexões de uma vestibulanda leiga com o cérebro deteriorado pelo cansaço

Pelo primeiro em muitos dias (sendo um deles o domingo cuja manhã eu passei trancafiada numa sala de aula, parcialmente me lamentando e parcialmente prestando atenção no que diziam os professores), me peguei sentada de bobeira, diante de uma mesa mais cheia de farelinhos de borracha do que minha mãe gostaria e de uma tabela-de-tarefas repleta de xizes: missão cumprida. Pelo menos por hoje.

Engraçado que eu cheguei, esse último sábado, a visitar, dentre alguns outros dos quais também já estava com saudades, o meu blog. Minha reação ao ler o que eu mesma tinha escrito foi extraordinária.
O que acontece é que o encantamento com o fato de eu e toda aquela galera estarmos no cursinho todos os dias (leia-se: ATÉ NO DOMINGO) correndo atrás dos nossos sonhos vem se esgotando a cada dia que passa. Isso na mesmíssima velocidade em que eu, depois de muitos e muitos dias estudando que nem uma louca e marcando muitos e muitos xizes cor-de-rosa naquela bendita tabela, passo a me sentir cada dia mais burra.
Como já dizem aquelas charges que meus amigos postam no Facebook (USP dois mil e nunca para mim, citando charges do Facebook ao invés de filósofos ou sociólogos): escola é lavagem cerebral.
Ao mesmo tempo em que posso às vezes me deleitar com a ideia de ter ali, na minha frente todo santo dia, professores inteligentíssimos me ensinando tudo o que a ciência já oficializou como correto a respeito de nós e do nosso mundo; vou falar bem a verdade: não sinto estar aprendendo muito. E isso não só porque eu estou é revisando esse ano o que aprendi durante toda a minha vida escolar ano passado, mas principalmente por aquela tal de reação extraordinária que eu disse que tive, lendo meu próprio blog no sábado.
"Como é que eu conseguia escrever assim, tão certinho, antes das aulas de acentuação do Carreira?"
Foi uma pergunta que invadiu minha mente aos pouquinhos, como quem não quer nada, e que, quando devidamente instalada, causou um choque do qual ainda não posso dizer que me recuperei.
Então é isso? Seria o cursinho pré-vestibular mais uma conspiração maquiavélica das grandes corporações para afanar dinheiro de cidadãos inocentes? Deixando seus alunos, coitadinhos, cada vez mais burros e dependentes de fórmulas, e macetes, e musiquinhas imbecis, para realizar o sonho de ser médico passar no vestibular?
Ou deveria eu simplesmente largar essa paranoia (e essa mania de riscar as palavras) folha de papel na qual agora escrevo, dar mais uma estudada, fazer uma permanência significativa em vajrolyásana, começar a resolver aquela prova da Fuvest que eu imprimi semana passada, fazer uma máscara de argila para minhas espinhas ou continuar a abandonada-por-mais-tempo-impossível leitura de Memórias de um Sargento de Milícias?
Quem sabe eu deveria é terminar aqueles exercícios de história de semana passada.
O que me lembra de uma coisa que pensei ontem, a caminho do restaurante por quilo onde costumo almoçar: assim como a gente estuda as civilizações antigas, tipo Mesopotâmia e Creta e tudo mais; um dia vão estudar, perplexos, a nossa civilização. E eu me pergunto como vai ser a reação desses caras quando verem, além de cadáveres com silicone em localidades sugestivas enterrados por aí (como diz a minha mãe numa piadinha que ela não se cansa de contar), vestígios desse nosso ilógico método de "ensino".

Não sei se fiz sentido falando tudo isso, nem se conseguiria fazer, sem as devidas aulas cursinhais sobre o assunto.
Acho que estou é ficando maluca.
A única coisa que eu efetivamente sei é que agora, simples e felicissimamente, eu vou deitar na minha caminha adorada e dormir.
Fiz essa decisão.

Diz que dormir ajuda a assimilar o aprendizado do dia.

domingo, 11 de março de 2012

"cero mano"

Começar a praticar Yôga para mim foi ótimo. Melhorou a dor na coluna, melhorou a concentração; melhorou o desempenho nas eventuais corridinhas-para-alcançar-o-ônibus, mas principalmente o desempenho da posição absurda ao qual minha depiladora me sujeita mês após mês naquela maca da tortura.
Ao longo, aliás, de meses de depilação Yôga - evolução física já sendo considerada banal na minha lista de benefícios - comecei a ter momentos únicos de lucidez enquanto praticava. Ali, em uma posição que fazia minhas pernas queimarem e tremerem de tanto esforço, podia fazer as mais interessantes analogias com comportamentos da vida real.
Autossuperação, foco e consciência da própria capacidade eram essenciais para conseguir sobreviver a uma hora de prática, e era em outros momentos, quando estava, então, "realmente vivendo", que conseguia entender melhor o porquê de tanta gente se referir ao Yôga não como uma atividade física, e sim como uma filosofia de vida.

Hoje, quando um pacote do único restaurante chinês que entrega no meu bairro chegou aqui em casa e eu me vi diante do yakissoba vegetariano mais bem-embalado da história de todos os yakissobas, um comportamento estranhamente familiar invadiu meus pensamentos:
Primeiro de tudo, calma. Olhe para o pacote. Não tente rasgar mais do que você já tentou - não dá certo. Vá com calma. 
Depois de algum tempo olhando o pacote:
Pegue uma tesoura. 
Depois de não encontrar a tesoura:
Pegue uma faca. Corte o pacote. Com cuidado.
Depois de cortar o pacote - com cuidado:
Aa... Missão cumprida. 

"De onde, toda essa familiaridade com aqueles pensamentos?" , pensei, com meus botões, enquanto comia meu yakissoba e minha mãe assistia, do meu ladinho, à novela Fina Estampa*.
E, de repente, tudo ficou claro.
Eram quase as mesmas palavras, e a mesma necessidade de calma, de foco.
É claro.
A resolução ficionada das mais variadas equações matemáticas invadiu minha rotina de tal maneira desde duas semanas atrás, que já tinha, assim como o Yôga, se tornado para mim uma filosofia de vida. A calma, a análise e toda aquela racionalidade nunca me foram característicos. Principalmente na hora de abrir um pacote de comida. (A ferocidade é semelhante a quando a gente é criança e recebe um presente finamente embalado. Espera um pouquinho que eu vou tirar esse durex pra não rasgar, tia. Aham, Cláudia, senta lá.)
Mas ali estava eu, analisando calma e atentamente um pacote de comida chinesa, como se fosse um raciocínio muito complicado.
É, álgebra. Até que nossa relação vai mais íntima do que me parecia.

O mais incrível é que o cursinho traz junto de si também outras filosofias de vida, fora a das equações, a do cansaço, da autopiedade e da carência emocional.
Depois que a novela acabou, minha mãe subiu para dormir e eu, assistindo ao Jornal das 10 na Globo News tomando um chazinho, pude observar que algumas dessas filosofias - que reconheço, aliás, do ano passado - já estão dominando meus pensamentos e minha maneira de ver as coisas, com apenas 2 semanas de aulas.
A mais incrível dentre essas tendências "pensamentais", para mim, e também a mais explícita e presente, é a biologia.
Estudar essa matéria abre minha mente mais do que estudar história, sociologia, ou filosofia sozinhas jamais conseguiu abrir.
Estudar biologia e, principalmente, ter consciência do quão abrangente é o termo "ser vivo" me faz ver o mundo de forma diferente. Estudar os tipos de reprodução, estímulos externos e maneiras que a natureza encontrou de facilitar a perpetuação das espécies me faz ver a única - "única" - coisa que temos - bactérias, cogumelos, amebas, esponjas do mar, minhocas (que são hermafroditas), árvores, musgos, bolores, vacas, porcos, galinhas e seres humanos - em comum: sobreviver e gerar descendentes.

É claro que o ser humano é diferente, muito diferente, e que nos vemos, diariamente, diante de muitas outras metas.
(A minha, por exemplo, é tão mais complexa que me obriga estudar aproximadamente 12 horas por dia, trancafiada em uma sala mal-arejada enquanto lá fora faz um sol de matar.)
Sentada no sofá, meu prato de yakissoba já vazio em cima da mesinha de centro, enquanto notícias e mais notícias me eram apresentadas pela televisão, não pude deixar de me perguntar: por que, de fato, nós somos diferentes?
Nós pensamos, sim. Somos, em muitos aspectos, considerados os seres mais evoluídos; sim.
Mas e daí?
Será que em nossa complexidade de metas e pensamentos, somos realmente melhores? Será que tudo isso é necessário? Como será que é, viver igual a uma araucária, altíssima e praticamente estática, alimentando a si mesmo com a ajuda da luz do sol e do gás carbônico? Ou como porcos, correndo, fedidos e gordos, de um lado para o outro por aí sem dar bola para nada?

O ser humano é tão engraçado. Se emociona com um jogo de futebol. Toca música. Criou coisas que eu não entendo, como binômios de Newton ou a bolsa de valores. Se arrepia não só por estímulos físicos, mas também quando vê uma coisa absurdamente legal. Tem vergonha de muitas coisas das quais não deveria ter. Se orgulha de coisas imbecis das quais deveria se envergonhar.

Quanto mais eu observo e leio sobre gente, mas percebo: a gente é muito engraçado. A gente é muito estranho. E a gente pode, e isso me intriga pra caramba, ser muito cruel.
Mas, ao mesmo tempo, cara, como a gente é incrível.
No meio de todas as distrações e metas criadas além da única real meta que todos os seres vivos de fato têm, criamos coisas tão incríveis.
Descobrimos tanta coisa. Temos nossa consciência e a capacidade de fazer tanto, tanto, tanto.
Estudar para o vestibular, além de ser o único caminho que atinge a principal meta da minha vida (sem a qual, aliás, sobreviver e gerar descendentes não teria assim tanta graça), é o momento em que consigo para e pensar nessas coisas.
Alguém um dia criou religiões e seitas, matou e continua matando muita gente por poder, roubou e continua roubando sem qualquer ressentimento. Alguém um dia sentou e deduziu a fórmula de Bháskara, descobriu a radioatividade, teorizou a psicanálise, inventou a imprensa, a calça jeans.
Pensando em todas essas coisas, eu fico sem palavras.
Todas essas coisas inacreditáveis que acontecem ao redor do mundo só me fazem querer estudar e aprender cada vez mais, entender melhor tudo o que acontece.

O vídeo "Kony 2012", fenômeno da internet criticado por muitos por sua ingenuidade, pelo menos conscientiza uma galera do que esse cara já fez de atrocidades por aí (e o pior... em nome da bíblia e do "senhor"). Também sou um tanto quanto ingênua, e, num primeiro momento, esse vídeo me fisgou. Tenho lido bastante a respeito e tentado entender o que realmente se passa por dentro da ONG Invisible Children, tenho mudado muitas vezes o meu ponto de vista a respeito. Mas continuo admirando o vídeo, e por um só motivo. Ele me faz pensar na principal filosofia de vida que escolhi para mim: a do jornalismo, que mostra, conscientiza os outros do que está acontecendo, acontecendo com as pessoas, com todos os seres vivos, com toda a Terra, tudo.

Aqui em casa, onde só chegam entregas de um restaurante chinês, muitas vezes me sinto impedida de fazer qualquer coisa, por não ter carro, o ônibus só passar de meia em meia hora e eu não ter uma voz imponente na sociedade ou na minha própria família.
Mas eu tenho meus professores. Eu tenho o jornal. Eu tenho os livros e as apostilas. Eu tenho, aqui em casa, o meu computador. Esse bombardeamento de informações, ao invés de deixar a gente desnorteado, aumenta nossa consciência e foco. Ouvir, ler, aprender. Passar para frente. É isso que eu quero da minha vida.
Simplesmente.
E parece incrível o quanto isso requer esforço.
Segunda-feira lá estou eu, na escola. Das 7 às 7. As costas doídas. Lápis, marca-texto, memorex e post-its na mão.

Estou pronta.
Pode vir.

* Pérola do Crô na novela de ontem: "Eu conheço ela tão bem quanto a discografia da Madonna"
Ha. Hahahahahhahaha.

domingo, 4 de março de 2012

Reflexões dominicais de uma mente cansada

Em Curitiba, em um dia quente de verão como ontem, chega a ser difícil acreditar no quanto é difícil estacionar o carro em qualquer um dos shoppings da cidade.
Mas é.
E o mais difícil nem é isso. O mais difícil, na verdade, acreditar no quanto as pessoas que estão ali, na tentativa de achar uma vaga, se mostram irritadas e mal-educadas; buzinando, xingando, berrando e fazendo gestos obscenos para qualquer pessoa que incomodar mais ainda a tarde terrível que eles estão tendo, ai, procurando um lugar para estacionar no shopping.
Não sei sobre a vida dessas pessoas, muito menos o que elas costumam fazer no shopping em um sábado à tarde. O que sei é que muita gente tem algum, qualquer que seja, costume fim-de-semanal lá, porque essa situação de stress-no-estacionamento se repete e se repete e se repete por tantas vezes que não consigo contar.
Nesse fim-de-semana, porém, rindo com as barbeiragens e dificuldades da minha recém-motorizada amiga Camila e auxiliando na hora de estacionar (na vaga que, surpreendentemente, encontramos rapidinho no Shopping Barigüi), ao me deparar com os berros de um motorista frustrado, acabei também me frustrando um pouquinho, contra ele, ao lembrar e automaticamente comparar aquele momento com o meu dia anterior.

Vestibulando é foda. Se acha a pessoa mais injustiçada do mundo. E com certeza, com não um pouco, mas com muita razão. Não vou ficar aqui discursando sobre os problemas educacionais do país nem nada - até porque estou longíssimo de ser uma autoridade no assunto - mas o sistema utilizado aqui para ingressar em universidades é a tortura decorebística mais ridícula da qual já ouvi falar. E eu, apesar de adorar o aspecto de ter o estudo como uma constante não só na minha, como também na rotina da maioria das pessoas que estudam comigo (até na daqueles caras bem bonitinhos que até ontem não sabiam o que é notação científica); entro nessa onda de sou-uma-vestibulanda-injustiçada sem nem perceber.
Passo a semana estudando um monte, e gosto. Presto atenção em todas as aulas, e, nossa, como eu gosto. Meus professores são muito inteligentes, e no final de toda manhã meus dedos acabam doídos, de tantas anotações que fiz, em qualquer cantinho em branco que encontrar na apostila. Mas, quando chega o fim de semana, a aula às 7 da manhã no sábado, os pais que não compreendem o meu cansaço, os almoços em que eles insistem em comer em churrascarias (mesmo já estando muito cientes de que não vou mudar de ideia sobre meu vegetarianismo); me sinto, sim, injustiçada. E, sim, é ridículo, mas estou só sendo plenamente honesta aqui. Só.
Ontem, diante daquele motorista irritadinho, além de pensar no quanto eu estaria felicíssima se tivesse um carro, lembrei, como já disse, do dia anterior.
Sexta, fim da primeira semana de aulas, e, à tarde, na sala de estudos da escola, estava totalmente mergulhada na matemática C. Terminei mais uma página de exercícios, e, ao ver que tinha acertado todos, fiz uma discreta comemoração e resolvi levantar um pouquinhos os olhos, alongar o pescoço, beber uma aguinha, coisa e tal.
E foi então que vi: estava rodeada de gente. De muita gente.
Todo mundo ali, cada um mergulhado na própria apostila, nos próprios pensamentos e raciocínios, nos próprios sonhos que querem realizar. Minha amiga estava do meu lado, e fez uma careta tão ridícula que tive que rir. E tinha tanta gente rindo ali, discretamente, para não atrapalhar os outros, mas rindo. Às 17h30 de uma tarde de estudos praticamente sem pausa, enquanto lá fora o Sol estava de rachar.
E a gente ali. E a gente rindo. E a gente feliz. Cansado pra caramba, , mas feliz.
Tão diferente daquele motoristinha estressado do shopping.
Tão diferente.
A gente sabe o que quer. A gente está ali não só porque pode, como se permite lutar pelo que quer. Apesar dos momentos de fraqueza e autopiedade, temos todos consciência de que a escolha foi nossa. Nós queremos algo não tão fácil. Queremos enfrentar uma tortura decorebística.
E estamos ali, dia após dia, um do lado do outro, mergulhando cada um na sua apostila, mas mergulhando juntos.
E felizes.

Enquanto aquele motoristinha, aquele pentelho, é um perdido. Indo fazer compras no shopping e berrando com os outros. Ui.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

(Pelo menos um) Momento de sobriedade carnavalesca

Minha cerveja já está quente, não sei se pelo calor absurdo que gruda meu cabelo despenteado à minha nuca ou pela minha lerdeza na hora de beber. Dirijo-me a um canto e deixo a latinha ali.
A fila para fazer xixi está gigante e o chão do banheiro está imundo. Tem mulheres arrumando o cabelo enquanto outras admiram suas próprias bundas na frente do espelho. Por um momento, eu as odeio. Para quê todo esse apelo sexual? Você acha mesmo que essa bunda pulando para fora do vestido é o melhor que você tem a oferecer?
Mas então desencano. É carnaval e estou prestes a esvaziar minha bexiga em um banheiro até-que-limpo: a vida não é tão ruim assim.
Depois do devido esvaziamento bexigal, chega minha vez de me olhar no espelho, e a tristeza: meu apelo sexual é igual a zero e o ar praiano fez de minha franja um belo par de chifres apontando para os lados. Ponho meu cabelo em um coque alto, diminuindo meu apelo sexual para aproximadamente menos cinquenta e dois, e saio à procura do meu irmão. Não estou de salto, então quanto o encontro pulando, fico feliz em poder acompanhá-lo. Steve Angello é o DJ da noite, e, além de ter cabelo comprido e poder fazer um rabinho charmoso, ele está tocando um set da Swedish House Mafia que não deixa nem as mulheres de salto alto paradas.
Ao meu redor, todos estão drogados e bêbados, mas eu, que não bebi nem uma latinha inteira de cerveja, sóbria a ponto de resolver uma equação matemática (só não muito difícil - estou de férias a quase quatro meses), observo ao meu redor com um interesse especial, vindo não sei bem de onde.
Percebo como esse lugar é bonito, e como devem ter pago uma fortuna para construí-lo. Para entrar aqui, aliás, cada um dos presentes também pagou uma pequena fortuna, e o nosso banheiro podia então estar limpo, e não até-que-limpo. Mas muita gente vai acabar a noite com a cabeça no vaso, que já estará sujo de xixi. Não é como se a galera dançando de óculos de sol em plenas 4h30 da manhã fosse se importar com isso.
A música está boa. Sinto a batida, e meu corpo acompanha. Sinto o calor, sinto o suor em minhas coxas quando elas se tocam. Sinto vergonha pelas mulheres com a bunda quase aparecendo, cujas coxas, aparentes e celulitosas, não chegam nem perto de se tocar enquanto elas dançam. Sinto a água gelada entrando no meu corpo. Sinto prazer em estar ali aproveitando as minhas férias, que - é aí que paro de pular - ai meu deus, já estão acabando.
Por um momento, não consigo raciocinar. O que existe na vida além de férias? Há muito tempo esqueci que existem reclamações diferentes de "não tenho nada para fazer".
É, Steve Angello, acabou. Daqui uma semana só, já acabou tudo. E começa então aquela jornada que concordei em participar. Será que, aqui nesse mar de homens com correntinhas prateadas e cabelos imensos com escova progressiva, alguém estuda na USP? Queria sentar e conversar. Estou ansiosa demais pelo futuro para reparar se tem algum gatinho me olhando - até porque já constatei faz tempo que não tem nenhum gatinho aqui. Meu futuro me aguarda. Não sei o que vai acontecer, mas sei que este é o fim do que sinto ser um limbo entre o nada e o tudo.
"Como é bom estar assim, no começo da vida", disse esses dias meu vô, olhando para mim com um sorriso bobo entre suas bochechinhas rosadas.
Como é bom! Eu quero estudar! Quero passar o ano me matando por algo que pode ser maravilhoso, por uma coisa pela qual escolhi lutar.
A batida da música é de repente acompanhada por uma chuva de papel picado, e volto minha atenção ao momento. À minha volta parece só existirem casais se amando (meu irmão e sua namorada sendo um deles), e eu estou é amando minha vida e todas as possibilidades que vejo em minha frente.
Sendo a possibilidade que escolho para mim agora aproveitar pra caramba esses últimos dias de limbo.
Feliz carnaval. Mas, principalmente, feliz ano que agora vai realmente começar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sobre meu guarda-chuva e um milhão de teorias furadas

Naqueles dias de verão em que o calor é grudento e a sensação de daqui-a-pouco-vai-cair-um-toró é constante, costumo andar por aí com um guarda-chuva gigante, daqueles com um cabinho pontiagudo em cima, na mão. Assim me sinto invencível: além de eu não me molhar, ninguém vai querer me assaltar / estuprar / sequestrar / perseguir / fazer mal enquanto estiver com aquela quase que arma na mão.  Com ele me sinto tão segura que, em um desses dias de verão, cheguei a fazer a burrada de atravessar a rua sem antes olhar para os lados. Felizmente, porém, nada aconteceu.
Foi nesse mesmo dia - em que, aliás, nem choveu - que me deparei com um carinha adorável andando de bicicleta no centro da cidade. Trocamos olhares por uns segundos, o que foi um daqueles momentos gostosinhos da vida, e depois seguimos nossos caminhos, o que foi normal. Eu estava indo até a banca à procura da revista Piauí de fevereiro, e o destino dele era provavelmente para o mesmo lado que o meu, porque a gente acabou se cruzando - e se olhando - de novo. Foi quando entrei na banca que percebi não só que nunca mais o veria, mas principalmente o quanto é fácil se apaixonar por uma coisa que tem poucas chances de dar certo - principalmente quando a coisa que tem poucas chances de dar certo é assim tão adorável.

Por que será?
Isso me faz lembrar do hábito bem comum - principalmente entre nós, mulheres - de querer quem não nos quer.
Por um lado, quem sabe seja simplesmente a vida conspirando contra nós. Vivo vendo meus ônibus passeando por aí, mas, quando estou no ponto, aguardando um deles, o tempo de espera já chegou a mais de 50 minutos. Além de uma gigantesca falha no sistema de transporte desse país, isso fala sobre o quanto as coisas são naturalmente mais complicadas quando as queremos. Porque, assim como quando estou caminhando por aí e encontro o Interbairros sem querer; quando, amorosamente falando, já estamos com alguém, chove coisas com muita chance de dar certo em cima de nós. Já quando estamos sozinhas...
Será que Freud explica? Porque, mesmo a vida e sua conspiração contra nós tendo sua parcela de culpa, nós temos uma maior ainda: quando é que a gente (lê-se: eu) (e essa história já não tem mais tanto a ver com o ciclistinha-adorável) vai parar de querer desafios amorosos? Será que nunca? Será que sem desafio não tem graça? No pain no gain?

Já dei muitas chances, se não para o amor, para aqueles caras (em grande maioria bizarros) que insistem em ligar e querer me ver.

Mas, no final das contas, para quê dar uma chance para toda essa falta de desafio, se eu já me sinto tão segura e protegida por aí em companhia do meu guarda-chuva?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

piegas, piegas

Depois do almoço (durante o qual nunca tomo nada) e depois de uns golinhos de água, era sempre a mesma coisa. O gosto de doce surgia, não sei bem dizer de onde, em minha boca, e minha aflição só era curada quando eu matava aquela vontade - com no mínimo um generosíssimo pedaço de torta.
O tão-aguardado-momento passava sempre rápido - eu comia apressada e ansiosamente, sem dar a cada um dos pedacinhos de qualquer coisa cheia de açúcar que fosse a sobremesa da vez o devido valor. Acabava sempre com a sensação de que "cabia mais um pouquinho..."
Já que tenho gastrite a mais de um ano, Não sei bem explicar o porquê de as coisas, ultimamente, não serem mais assim. Depois do almoço (durante o qual ainda não tomo nada) e depois de muitos goles de água, me vejo agora muito mais satisfeita do que costumava me sentir. O gosto de doce não se manifesta tão vivamente em minha boca, e, quando mesmo assim saio à procura daquela sobremesa especial, é por escolha, e não pela necessidade que costumava sentir.  

Me espanta o quanto não consigo me sentir desse jeito em relação a você. Não importa quantas sessões de análise, quantas aulas de Yôga e quantas caminhadas eu faça pela cidade me declarando autossuficiente: quando o assunto é você, surge aquele gosto na boca, aquela aflição que precisa ser suprida, e, além de nunca sentir que aproveitei nosso tempo juntos suficientemente, saio sempre querendo muito, muito mais.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O que vem por frente

Em mais um táxi transitando por São Paulo num final de tarde qualquer, enquanto o motorista (Elvis) discursa sobre trânsito e problemas no transporte público, eu passo minha cera-hidratante-para-cutículas em cada unhinha da mão e sorrio. Meus dedos estão cheirosos, o ar-condicionado está ligado (o que, apesar da minha rinite, nesse calor é um alívio) e nós já chegamos na Augusta, rua onde o primeiro dia do curso de férias para o qual me inscrevi me aguarda, só não tão ansiosamente quanto a USP (que terá, coitadinha, de pacientemente esperar até 2013).

"E você veio de Curitiba só para fazer o curso?", perguntavam todos os paulistanos-e-habitantes-de-São-Paulo.
Vim.
Quer dizer, o curso foi um pretexto. Mas, como diria meu pai - que é gaúcho -, foi um baita de um pretexto.
Trabalhar um pouco minha "Escrita Criativa" com uma das colunistas de que eu, que nem sou tão culta assim, mais gosto - Milly Lacombe -, já seria bom demais. Mas esses cursos legais nunca acontecem em Curitiba, e é justamente por isso, além de já ser bom demais, que ele acontece em São Paulo, na Escola São Paulo, onde já estou, fazendo piadinhas e me apresentando aos meus colegas.
(É meu artifício para esconder emoções-extremamente-escondíveis, o que é o caso da vergonha e do nervosismo desse momento: piadinhas, piadinhas e mais piadinhas - a maior parte delas, eu lamento, ruins.)
"Ah... Eu estava entediada em casa, sabe... Quis dar uma passeada", respondo aos paulistanos-e-habitantes-de-São-Paulo. Sem dizer toda a verdade, e ao mesmo tempo sem mentir.
Eu vim pela cidade.

O tédio e a falta de emoção fizeram com que os últimos dias passados em Curitiba antes disso tivessem como preocupação-principal a leitura dos ingredientes de todas as comidas que vêm em saquinhos com rótulos. Cortar completamente a lactose de minha dieta, nem que por 10 dias, não é mole não. Aliás, nem por quatro não é, sendo esse o lamentável número de dias em que realmente consegui a proeza (que tinha como objetivo um estudo relacionado à minha adorada gastrite).

O que eu acabei descobrindo (e isso, obviamente, de maneira alguma se deve aos míseros e esforçados quatro-dias-sem-lactose), é que estava sentindo falta de momentos que, de tanto nervosismo, afetam minha gastrite. Falta de momentos que afetem meu estômago e que façam meu corpo inteiro tremer, de tanta ansiedade.
Enfrentar algo novo - ou, de uma maneira nova, enfrentar o velho - é grandioso, e, ali (com ou sem piadinha), me apresentando para todas aquelas pessoas novas naquele lugar completamente novo, não me importava mais com as gastrites, com as outras ites ou com qualquer consequência disso.
Eu estava ali por vontade própria. Na cidade em que eu queria estar, fazendo o que eu queria fazer e, até então, acompanhada principalmente por Elvis, o taxista, mas prestes a passar também um tempo simplesmente com quem eu queria que me acompanhasse.
E o que pode ser melhor que isso? Melhor que poder escolher tudo isso?
Que se fodam todas as ites, o leite, seus derivados, o tédio, a programação da Globo News e minha vontade de não estar acompanhada. Ali estava eu, escrevendo histórias, ouvindo histórias, e vivendo muitas das que teria depois para contar.

Como em uma das duas únicas vezes em que traí Elvis, o taxista, e um baiano simpático me levou do Morumbi à Vila Olímpia, numa tarde chuvosa. Eu olhava pela janela, pensando na vida, quando percebi que ele estava cantando. Não pude conter o riso, e ele, o sorriso, que vi pelo retrovisor.
"Essa é a música que a gente canta, lá no sertão lá da Bahia, quando faz tempo que não chove."
Eu sorrio de volta. "De onde eu venho, não tem música assim não. Lá tem tanta chuva que a gente devia aproveitar e doar um pouquinho para vocês."
Ele não para de sorrir. "Cara, esses baianos," penso comigo mesma, "são sensacionais."
Conversamos um pouquinho sobre nossas cidades natais, tão diferentes uma da outra, e ele, quando o silêncio ameaça voltar, começa a cantar de novo. E muda constantemente de música, buscando com esforço em seu repertório letras que tenham a ver com chuva.

Estou feliz por ter conhecido tanta gente legal, ouvido tantas histórias boas e visto que uma nova realidade na minha vida é, sim, possível.
Conversei com pessoas experientes e com outras não-tanto-assim, passei um tempo longe dos meus pais e decorei, em contraste à Globo News, toda a programação das 14h às 18h no Discovery Kids, deitada no sofá com meu primo paulistaninho de dois anos, entre uma apertada-naquele-bumbum-gotoso e outra.

E como a vida é boa. E, apesar de estar de volta em Curitiba, como eu vou me esforçar para que ela continue sendo.

Uma das músicas cantadas pelo motorista baiano naquela tarde chuvosa

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sobre ites, médicos japoneses e percepções de mundo

Nas férias de verão, além da liberdade de escolha do que fazer em todos os longos dias que acordo tendo pela frente e da companhia de pernilongos em meu quarto durante praticamente todas as noites, sempre tenho uma pilha de médicos para visitar. Consultas e mais consultas, check-ups, endoscopias, ecografias, exames de sangue, dentistas, bla-bla-bla.
Eu, meu guarda-chuva e meu cartão da Amil (para dar uma boa resumida em todos os itens contidos na minha bolsa-mala) passeamos bastante pela cidade nesses últimos meses, a pé ou de ônibus, de consultório em consultório (fazendo sempre paradas estratégicas no caminho). Nessa última semana, porém, traí minha pseudo-liberdade de caminhante-da-cidade pelo conforto do carro da minha mãe, que, por ser minha mãe (e só por isso), resolveu ser minha motorista durante uma semana inteirinha dentre as três que teve de férias nesse verão. Além de médicos, foram muitas outras paradas e horas de estacionamento pagas, tudo visando o maior número possível de itens riscados, na minha lista de coisas a fazer antes do fim das férias. (Pausa para agradecimento à mãe: VALEU MÃE).
Em um dia particularmente cinza e frio, cujo único indício de que eram férias de verão foram uma consulta médica e a falta do que fazer durante o resto da tarde, passamos em frente ao hospital Pequeno Príncipe, perto de onde morávamos quando eu era pequena. Me lembro bem de lá, e de minhas frequentes-demais consultas com pediatras, fosse para tratar de alguma "ite" ou para mais um capítulo da novela Por Que a Giovana Faz XIXI NA CAMA COM 7 ANOS DE IDADE?, encenada por muitos anos por minha família preocupada e inconformada com meus colchões diariamente molhados (e eu só fui parar com isso aos onze).
Antes mesmo de completar 10 anos, minhas saídas de casa se limitavam, além das idas à escola, a passear a pé com minha mãe, para ir à padaria, ao shopping, ao hospital. Me lembro especificamente da Sete de Setembro e da Silva Jardim, grandes avenidas, cheias de prédios, carros, ônibus.
E quanta diferença vi essa semana, passando ali pela esquina da Silva Jardim onde fica o Pequeno Príncipe. As paredes pintadas de amarelo e as bolinhas coloridas na entrada faziam do hospital  um local muito mais bonito do que costumava ser, mas o que mais se explicitou naquele contraste todo que me impressionava foi meu olhar sobre aquilo tudo, minha nova realidade, e meu novo ponto de vista sobre aquela não-tão-grande-assim avenida.
Foi ao longo dos anos, enquanto minha percepção de mundo aumentava, que minha lista de "ites" acompanhava o crescimento. Junto com as tantas maiores e mais incríveis avenidas que conheci (ah, os passeios de fim de semana da família na Champs Elysées...), mais e mais conhecimento foi absorvido por minha cabecinha. Até que, de repente...
Coisas erradas, pessoas "erradas", atitudes e notícias erradas chegando aos meus ouvidos - chegara, sim, a tal de "maturidade" (que até hoje não sei bem dizer o que é), mas, junto dela, uma absurda frustração. Sempre querendo que tudo fosse "certo", o que faria eu de tanta coisa errada, bagunçada, fora do lugar?
Sinceramente não sei bem dizer o que faço de tudo isso. Quantas vezes já não ouvi e li que a maioria das minhas "ites" tem como principal causa o stress...
Dentre as atividades que preenchem minha vida fora os médicos e os estudos, estão as que envolvem auto-estudo e aprimoramento pessoal. Sempre procuro melhorar, a mim mesma e a praticamente tudo (que o diga a animação SENSACIONAL no título do meu blog, que eu passei uma boa parcela da minha tarde de hoje fazendo). Mas até que ponto isso é bom? Até que ponto posso melhorar? Qual é a hora de dizer "DEU"?
Não estou exatamente aguardando com ansiedade a próxima "ite" da minha lista. E é, quase que inacreditavelmente, graças a todo o meu auto-estudo e disposição a melhorar (que me parecem às vezes tão contrários ao processo de aceitamento-pessoal ao qual com esforço procuro me submeter) que eu percebo que, no meio de tanta coisa errada, também posso ser um "erro". É bom saber que não há nada de mau nisso. Por mais paradoxal que a penúltima frase possa me ter saído.
Mas é por tudo isso que vou, no quinto dos 10 dias sem laticínios que meu gastro japonês me sugeriu, me rebelar: que se cuidem, os sonhos de valsa lá embaixo. Porque, sabe, cansa, querer ser perfeita hoje eu estou pro crime.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Crises existenciais alheias

É engraçado, apesar de todo o vangloriamento à conversa consigo mesmo que eu acabo sempre produzindo por aqui, o que o compartilhamento de informações faz com a gente. Não só quando nós compartilhamos e temos aquela sensação ótima (por alguma razão que eu desconheço), mas também quando os outros o fazem, fazendo com que nos deparemos com realidades totalmente novas ou com aquela linda conclusão - "então não é só comigo?!".
É gostosa, por mais terrível que dizer isso possa me fazer parecer, a consciência de que os outros também têm problemas.
Agora a pouco, no entanto, enquanto meu irmão dirigia seu carro e abria seu coração para mim e sua namorada, não consegui exatamente demonstrar meu mais alto nível de empatia. Ao mesmo tempo em que o clássico "então não é só comigo?!" preencheu meus pensamentos, por algum tempo neguei conhecer a sensação de vazio que ele estava descrevendo. Quem sabe um pouquinho por não querer expor aquela grande fraqueza aos dois ali presentes. Mas principalmente, eu acredito, por não querer que aquilo se "proliferasse", por passar, por meio daquele compartilhamento, a ser considerado "normal".
Mas o negócio é que é, sim normal. Estar de férias, por mais incrível que pareça nas fotos dos outros, pode ser perigoso, principalmente para quem fica em Curitiba e se depara com todos os seus bares preferidos fechados / vazios.
Acordar com um dia, além de lindo, completamente livre na sua frente significa mais do que "vou passar o dia inteiro na piscina". Explicita o estupefante poder de escolha que temos sobre nossas vidas, sobre o que preenche tanto nossas horas quanto nossos mais profundos pensamentos.
Não é tão fácil quanto pode parecer, essa percepção. Por que, se temos "todo esse poder", escolheríamos coisas, ocupações, pensamentos que nos fazem mal?
Tanto a psicanálise quanto o Yôga me ajudam constantemente a entender essas coisas, e a ter cada vez mais consciência do que escolho para minha vida. Sei que meu irmão (que não é lá muito adepto a "essas coisas"), lidando agora com péssimas escolhas no quesito preenchimento-de-uma-mente-desocupada, precisava de mais conforto e ajuda do que o que consegui lhe oferecer, ali do banco de trás do carro. Espero não ser tão covarde em nossa próxima conversa, e que ele, nesse meio tempo, arranje algo de interessante para ocupar aqueles neurônios.


  Latest tracks by rafeix

Por falar nisso, ouçam os sets de música eletrônica que ele faz. Até eu gosto, e olha que não sou assim tão adepta a "essas coisas".

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

"A sua intelectualidade, tal como seu corpo, desabrochara inesperadamente, atingindo de súbito, em pleno desenvolvimento, uma lucidez que a deliciava e surpreendia. Não a comovera tanto a revolução física. Como que naquele instante o mundo inteiro se despia à sua vista, de improviso esclarecida, patenteando-lhe todos os segredos das suas paixões. Agora, encarando as lágrimas do Bruno, ela compreendeu e avaliou a fraqueza dos homens, a fragilidade desses animais fortes, de músculos valentes, de patas esmagadoras, mas que se deixavam encabrestar e conduzir humildes pela soberana e delicada mão da fêmea."

O Cortiço