quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Adeus, ano velho

Em frente ao espelho, enquanto tirava a maquiagem e ouvia Death Cab For Cutie baixinho o suficiente para não acordar meus pais, palavras fluíam com naturalidade de minha boca numa deliciosa conversa comigo mesma. O pensamento que normalmente preenche minha cabeça nesses momentos-de-fim-de-noite envolve lamentações pelo contraste gatinha devidamente maquiada antes / depois adolescente com pele acneica, mas, naquela noite, estava tudo bem. Sem maquiagem, sorri para meu reflexo acneico no espelho e pensei não só na noite (agradabilíssima, aliás), mas também no ano que tinha acabado de passar.
2011 foi um ano em que aprendi muitíssimo em biologia, tendo inclusive decorado tanto os nomes dos órgãos de uma flor quanto os de todos os frutos-que-na-verdade-são-pseudofrutos. Além disso, porém, e de outras matérias menos interessantes que caem no vestibular, aprendi esse ano a estar sozinha.
Não quero ser repetitiva. Sei que textos expressando minha adoração pela solidão não faltaram por aqui nos últimos tempos, mas não é para menos.
Ontem de noite, diante do espelho durante aquele interessantíssimo papo, uma sensação de plenitude indescritível me invadiu. De repente, uma epifania sobre a conversa consigo mesmo, que está, aliás, presente no título do meu internacionalmente-conhecido-blog: extremamente comparável à masturbação, ela pode, às vezes, lhe parecer lamentável; mas é essencial no desenvolvimento do seu autoconhecimento e do convívio saudável consigo mesmo.
Sendo o prazer e a sensação de realização vindos da autossuficiência e do convívio proposital e consciente consigo mesmo o que mais desejo tanto a mim quanto a meus milhões de leitores no ano que começa, cito uma frase memorável (que já se encontra no meu caderninho de frases memoráveis) do livro que terminei ontem:
"Se não conseguimos abraçar nossa própria solidão, simplesmente usaremos o outro como um escudo contra o isolamento."

Monday Morning by DEATH CAB FOR CUTIE on Grooveshark

Feliz ano novo para nós, sozinhos ou acompanhados, mas sempre apreciando o fato de termos a nós mesmos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

"Quem é mais sentimental que eeeu?!"

Dentre aquelas coisas que dizem que a vida nos ensina, tem uma que ela desde praticamente sempre me obrigou a saber. O desapego.
Ao longo dos meus não-tão-abundantes anos de vida e das mudanças de escola, bairro e país; conheci muita gente legal, muita gente bacana, muita gente interessante.
Mas aquela gente que é realmente incrível, essa, infelizmente, parece nunca permanecer comigo. Essa é uma gente que acaba, mais cedo ou mais tarde, indo embora, seguindo seu caminho para encontrar um lugar no mundo.
Isso porque quem é incrível, além de viver te ensinando, inspirando e fazendo feliz; também sabe muito de desapego. Essa gente sabe, assim como pensei enquanto lia as poucas páginas que efetivamente li de "On The Road", que o mundo é nossa casa, e que poder se sentir livre o suficiente para explorar e aproveitá-lo plenamente é essencial para nossa felicidade e autoconhecimento.
Apesar de serem raros os momentos em que reconheci tudo de bom que as tantas despedidas pelas quais passei puderam me trazer, foi com o desapego e com essa gente que aprendi que os laços que valem a pena não precisam ser forçosamente estimulados, mas sim que são alimentados com naturalidade ao longo até de anos que podem ter passado desde a última vez que nos vimos. No fundo se sabe que, na hora do reencontro, vai ser como rever aquele primo que você não vê a tempos: você pode quase não reconhecê-lo e não saber de absolutamente nada que está acontecendo em sua vida, mas é seu primo. É família.
É a essa família de fato incrível que eu escolhi ter, e que vejo agora espalhada em tantos cantos do mundo, que agradeço pela ajuda em uma das escolhas mais difíceis que já fiz. Me desapegar da vida que levo e ir traçar meu próprio caminho vai exigir que eu encare muitos medos e dificuldades, mas é pelo exemplo de vocês que tenho certeza de que vou conseguir. Obrigada obrigada obrigada! E força pra nós.

(Escrever tudo isso me fez sentir um tanto quanto piegas, mas hoje, além de ser natal, me despedi de uma das pessoas que mais estiveram presente em minha vida no ano que passou. Apesar de ter chorado um monte, não consegui expressar tudo o que eu queria. E é por isso, então, que hoje pode. Hoje pode, ser piegas. Mas lembro a mim mesma: SÓ HOJE! Por favor!)
(Fazia tempo que eu queria usar a palavra piegas por aqui. Ela é realmente única.)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

E todo mundo tem seus momentos de carência...

Caminhando por aí em um daqueles meus momentos de exacerbados auto-suficiência e amor-próprio, COMO eu estava bem.
Era uma particularmente quente e ensolarada tarde curitibana, e, carregando sacolas cheias de presentes e flores, eu me sentia o Papai Noel, além de feliz e animada (apesar das bolhas no pé que insistem em querer me aborrecer), bonitíssima. Se tivessem tirado uma foto de mim naquele momento, com um lindo e colorido bouquet de flores em uma das sacolas que segurava, eu com certeza a acabaria colocando como perfil no Facebook (ou substituindo essa aqui à esquerda, que já está ultrapassada).
É sempre nesses momentos-de-amor-próprio que percebo (e já registrei muitas vezes essas percepções por aqui) o quanto estar sozinha e solteira - poder ir para onde eu quiser, ouvindo a música que eu quiser, e ficar lá quantas horas eu quiser, sem dar satisfação a ninguém - me enche de alegria e disposição. Ontem, porém, descendo as escadas de um shopping cujo nome não mencionarei (como já diria meu pai, CUIDADO, FILHA, ASSIM VÃO TE ESTUPRAR), me embananei na hora de colocar meus óculos de sol e levei um tombão bem em frente ao ponto de táxi, de onde nenhum motorista se moveu para me ajudar a juntar minhas flores e todas aquelas sacolas. Quem sabe a verdade seja que nem tenha dado tempo de me ajudar; já que, não sei se por vergonha ou pela ideia de "foi só um susto, pode continuar brincando" que nos é "sugerida" desde a infância, em um piscar de olhos eu estava recomposta. Já com os óculos me protegendo não só dos raios UV como também de demonstrar publicamente o quanto me senti humilhada e desengonçada, continuei meu caminho.
Frágil, aquela minha sensação de bem estar. Em pouco tempo, a ardência dos diversos pontos de minha perna que tinha ralado no asfalto e as bolhas no meu pé, agora bem-sucedidas na arte de me aborrecer, não me permitiam mais ver as coisas do mesmo jeito. Pensar em tudo o que eu ainda tinha que andar e fazer e no ônibus que eu tinha que pegar antes que escurecesse começou a explicitar o quanto eu estava exausta, e a vontade que eu mais tinha era de pedir uma carona para o primeiro carro que passasse (Pai: CUIDADO, FILHA). Isso não aconteceu, é claro, mas cheguei a cogitar pedir carona à amigável senhora com quem compartilhei minhas angústias na absurda fila de embalar para presente da livraria.
No ponto de ônibus, o quase-final da minha jornada-em-uma-tarde-ensolarada, parei enfim para pensar, pela primeira vez em muitas jornadas semelhantes a essa, no quanto eu precisava, sim, de alguém.
 Alguém que me amasse (percebi agora uma ambiguidade nessa última oração, e, esse ato falho, só Freud explica), me consolasse e cuidasse das minhas perninhas feridas.
Alguém que topasse trabalhar, 24h/24 - 7 dias/7, como meu motorista particular. O pagamento, por sua vez, sendo a minha impagável amizade.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

toc toc - eu não tô

Quando se tem tempo demais de férias, contrariamente ao que se possa pensar, tudo fica assim, meio estranho.
Vou confessar publicamente, até porque não vejo problema nenhum nisso, que não comecei a trabalhar por preguiça, e que quem forjou isso tudo para mim fui eu mesma.
O estado no qual me encontro, diferentemente de outros anos onde a solidão-de-férias proporcionou tristeza e até um certo desespero, é o de contentamento. Contentamento comigo mesma nos mais variados aspectos, contentamento com os outros e, incrivelmente, contentamento com as antes assustadoras e preocupantes notícias sobre o futuro econômico do mundo, que pseudo-ouço, enquanto pseudo-durmo, à tarde, embaixo dos pseudo-lençóis.
Tudo parece estar acontecendo em um tipo de realidade embaçada, onde nada parece de fato importar ou fazer sentido. Às vezes, andando pelas ruas, me pergunto como pode existir gente por aí construindo prédios e coisas incríveis, fazendo leis, curando doenças e descobrindo que suas pacientes podem vir a ter calvície feminina para tratá-las antes que essa tragédia ocorra, enquanto eu, sem fazer absolutamente nada de realmente produtivo da vida, consigo me sentir assim tão bem.
E é como que me proibindo desse sentimento "não-merecido" de bem-estar que vi, hoje de tarde, o quanto sou uma farsa. Embaixo dos pseudo-lençóis pseudo-ouvindo uma entrevista com a Adele na Globo News, foi durante os comerciais, que anunciavam uma entrevista com Martha Medeiros, que eu percebi.
Uma das poucas coisas das quais pareço ter convicção em minha cabeça é o fato de que o que quero fazer da vida é escrever.
Não sei sobre o que, não sei onde. Escrever.
Em meu contentamento desmerecido de férias, porém, nem isso mais eu estava fazendo. Nem ao menos pseudo-fazendo. E nem tentando.
Foi depois de uns minutos praticando Yôga e tomando sol em meu jardim que vim aqui, então, perder alguns de meus preciosos minutos para registrar o quanto todas essas pseudo-preocupações e toda essa baboseira não fazem sentido algum.
Porque não fazem mesmo. Porque, ultimamente, nada parece fazer. Mas porque, pelo menos por enquanto, isso não tem o mínimo problema.

sábado, 3 de dezembro de 2011

"Entre brados anticapitalistas, e pragmáticas sugestões de novos sistemas de taxação progressiva, um rapaz pede a palavra. Seu nome é Ross Wolfe. E depois de três semanas frequentando a praça, ele traz um diagnóstico:
'Vejo a insistência no número de 99% como fator que nos une. Mas o que seria o triunfo desse movimento? Para mim, a capacidade de separar o sintoma da doença. De enxergar além da má distribuição de renda e avaliar até que ponto estamos dispostos a questionar concepções sociais de longo alcance. Se quisermos revolucionar, união não basta. Temos que assumir que perdemos a capacidade de imaginar uma sociedade realmente diferente'.
A força da conclusão de Ross traduz o abismo que separa a OWS da real Wall Street. Por mais que a indignação seja justa, a construção orgânica dos passos da ocupação por definição não apontam um modelo de mundo factível na mentalidade do presente. Vi pessoas desafiando o bloqueio policial de uma rua com raps improvisados e dançando 'I Will Survive' cantado em coro. Mas não li um manifesto de como organizar a sociedade em um mundo pós-capitalista. Em uma madrugada, quando acordei com a chuva em meu rosto, alguém me cobriu com uma lona. Mas não escutei nenhuma proposta de como alimentar 7 bilhões de pessoas em um planeta em crise climática. Tantas propostas claras para uma sociedade diferente foram tentadas no século passado. Mao, Stalin, Hitler, Khomeini, Nixon, Reagan, Bush I e Bush II. Todos arrebanharam milhões em torno de uma visão mais democrática de futuro. Muammar Kadhafi escreveu uma cartilha propondo um sistema de 'democracia direta', baseada em assembleias populares. Deu no que deu...
Quando vi a verdade no argumento de Ross, de que eu, e talvez ninguém por ali, era capaz de propor ou imaginar uma sociedade diferente, tentei não sentir medo daquela imprecisão. Me pareceu melhor confiar mais nos biólogos do que nos teóricos políticos. Abelhas, peixes, pássaros não têm planos nem ilusão de controle. Mas colmeias, cardumes e bandos funcionam como sistemas quase perfeitos a seus indivíduos. Comecei a ter fé de que um mundo realmente novo seja o efeito emergente daquele superorganismo que começava a infestar cidades no mundo."

- Bruno Torturra Nogueira, em reportagem à Trip sobre o OWS.

sobre ficar careca & outras peripécias

Não foi exatamente a coisa mais normal do mundo escutar da minha dermatologista, algumas semanas atrás, que eu poderia vir a ser um caso de calvície feminina. Menos normal ainda foi quando, ontem à tarde, no horário para qual tínhamos marcado um misterioso exame a despeito de minhas madeixas, sentei-me na mesma cadeira em que previamente fizera um peeling de ácido, e ouvi o mistério todo sobre o tal exame se desfazer:
 - Vamos cortar uns 4mm, mais ou menos - a doutora afirmou com convicção.
 - Ah, do cabelo?! Beleza - respondi. Estava, de fato, tudo beleza. Até então.
 - Não, não. Da pele.
Eu me mantive em silêncio. Ela teve de intervir:
 - Não se preocupe, vamos dar um pontinho depois. Você não vai ficar com um buraco sem cabelo na cabeça.
"Ficar (ou não) com um buraco sem cabelo na cabeça" sendo, naquele momento, a última das minhas preocupações, depois de ouvir isso não consegui não demonstrar meu pavor. Não desmaiar na hora de tirar sangue já fora um gigantesco avanço em minha vida nos últimos anos, mas simplesmente tirar 4mm do meu couro cabeludo e me pedir para "não me preocupar" foi, realmente, muita ousadia da parte dela.
Permaneci quieta e procurei me preparar. Segurei firme nos braços da cadeira, respirei fundo e tentei me lembrar das mentalizações-amenizadoras-de-dor que aprendo em aulas de Yôga (e que são sempre postas em prática, além de na aula, naquelas sessões de depilação que parecem não acabar nunca).
O "procedimento" começou, e eu, me esforçando loucamente para mentalizar, ao invés de minha pele sendo cortada por um bisturi, meu crânio brilhando na cor azul-celeste; fui surpresa pela doutora, que perguntou, pela primeira vez na vida, por detalhes da minha vida pessoal que nada tinham a ver com meus hábitos alimentares, shampoos, hormônios, momentos de stress e ciclos menstruais.
Sim, ela estava tentando me distrair. Mas, mesmo ouvindo o barulho de bisturis  e tesouras ao fundo, decidi fingir não ter consciência disso, e abandonei as tentativas de mentalizações azul-celestes completamente.
Contei a ela um pouco sobre a experiência de ter morado na França, e, tá, com certeza não tão de repente assim, o "procedimento" chegou ao tão esperado fim. A doutora, alguns instantes depois, veio me mostrar um potinho com um pedaço cabeludo de pele dentro, o que, além de ter ganhado o prêmio de cena mais nojenta e desnecessária da minha vida, me fez sentir parte de um filme muito louco de ficção científica. Tendo cortado 4mm do meu couro cabeludo, aquela doutora maluca ia conseguir fazer uma lavagem cerebral e me manter como cobaia em seu laboratório maluco para fazer experiências malucas.

Mas é agora, depois que a euforia de tudo isso já passou, no momento em que a única dor que eu sinto no topo da cabeça é provavelmente psicológica; que venho para afirmar que sobrevivi, que estou bem, e que minha cabeça ainda está repleta de cabelos, muito bonitos, aliás, já que fiz prancha para sair ontem à noite.


Eu, um nenê feliz e cabeludo.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

pequena epifania veraneia

Eu andava por uma de minhas ruas preferidas, numa tarde de Sol em que tanto as buzinadas quanto os pedreiros, longe de me incomodar, alimentavam e agradavam mais do que eu julgava possível o meu já-muito-bem-alimentado-ego. Tinha passado uma tarde agradabilíssima lendo e superando a mim mesma em minhas práticas de Yôga, e me sentia forte, leve, capaz.
Com os fones do meu iPod no ouvido, a bolsa sobre o ombro e uma garrafinha de água na mão, foi no momento em que a habitual coceirinha que eu sinto quando começa a fazer calor se manifestou que eu tive uma maravilhosa epifania: se eu estou tão bem, aqui andando sozinha pela cidade, e sou flexível o suficiente para coçar minhas próprias costas de maneira tão satisfatória, então é realmente isso - eu não preciso de ninguém.


Pra Te Acalmar by Marcelo Camelo on Grooveshark

Dedico hoje, nesse outro dia gostoso de quase-verão, essa música a mim mesma. Isso porque sei que seremos muito felizes, eu e eu mesma, dançando e nos coçando ao som dela por aí.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

decisions, decisions...

A gente tem, curiosamente, momentos e cenas dos quais se lembra com mais lucidez que outros. Não necessariamente eventos, do estilo casamento, aniversário, natal, réveillon - mas momentos aleatórios de nosso dia a dia, que acabam, por um motivo ou por outro, sendo guardados em algum compartimento especial da nossa memória.
Me lembro exatamente, por exemplo, de como me sentia quando deitava na sala de TV da casa em que morava na França. A textura e a cor do sofá; o escuro que, apesar de parcialmente iluminado pela televisão, me dava uma tranquilidade boa; e a lareira, no cantinho direito da sala, abarrotada de porta-retratos.
No inverno de 2007, depois de voltar - bronzeadíssima, já que, por aqui, era verão - de férias no Brasil, liguei a TV e o DVD e deitei-me naquele sofá, enrolada em uma coberta que nem um charutinho (como já diria minha mãe).
Estava prestes a assistir, pela primeira vez, a Maria Antonieta, filme que, dirigido por Sofia Coppola em Versailles, a menos de 20 km de distância da minha casa; ainda estava em cartaz nos cinemas franceses, mas tinha sido comprado por mim no camelô de Balneário Camboriú por aproximadamente 15 reais.
Nessa época, estava de paquerinha (uhuhu) com um sueco que fazia espanhol com uma amiga minha. Apesar, no entanto, de nossas conversas no MSN (cujo histórico eu salvava e gostava de ler em momentos de tédio) e trocas de CDs, não estava muito certa sobre ele.
E foi por isso que, deitada no meu sofazinho antes de o filme começar, fiz uma aposta comigo mesma, como já me era de costume: se, neste filme, houver algum tipo de sinal que me lembre do meu sueco, continuo com essa história. Se não, bola pra frente.
O desenrolar da trama acabou me fazendo esquecer da aposta. Mais tarde, porém, foi lembrando de acontecimentos do filme que voltei a me lembrar dela. O drama de Sofia Coppola tinha mostrado o caso que a rainha austríaca da França teve com o conde Fersen, do exército da Suécia. É. Sortudo, aquele meu sueco. Porque aquele caso, que só trouxe mais polêmica em torno daquela que foi uma das mais odiadas rainhas de todos os tempos, foi um fator essencial na minha decisão de levar nossa história para frente.

Com infinitas vezes mais lucidez, lembro-me da tarde de hoje. Lá fora chovia, e eu, deitada na cama já de pijama e com mais meias do que o que se consideraria normal, assistia a um filme na TV. Sem ter feito nenhuma aposta (além de uma possível aposta inconsciente - "duvido que você coma mais torta do que você deveria"), não fiquei esperando sinais que fossem me lembrar de alguém. Mesmo assim, quando o filme acabou, me peguei lembrando do dia em que assisti a Maria Antonieta pela primeira vez.
Eu não tinha ficado, de fato, esperando por um sinal enquanto assistia, hoje, àquele filme da TV. Mas o fato de eu tê-lo passado inteirinho pensando em você é o sinal mais explícito de que há, em minha vida, uma decisão a ser feita. Continuo com essa história - ou bola pra frente? 

domingo, 6 de novembro de 2011

isto e isso e aquilo, e mais aquele lá

(Inspirado na "grotesca metáfora" do post anterior e em um dia-de-limpa-no-armário)

Uma vez a cada ano, preferencialmente nas férias, é dia de faxina: tira-se tudo do armário, observa-se tudo fora dele (com certo espanto) e faz-se aquela seleção de coisas, aquela limpa, que parece esvaziar um pouco mais a casa ao mesmo tempo em que preenche um pouco mais o tempo a alma.
É no desenrolar desse processo que a gente tem a possibilidade de, mesmo inseridos nesse capitalismo maluco onde ter e comprar nos são constantemente impostos, perceber e admirar a beleza e o prazer de se livrar de nossas coisas. E parece que é mesmo só ali, no momento em que está tudo exposto e bagunçado, que podemos realmente encará-las de frente: as nossas coisas.
Palavra que sempre me pareceu vaga demais, "coisa" é de fato o que melhor expressa o que se vê diante de cenas como a pilha de roupas, sapatos, bolsas, livros, CDs e apostilas que há pouco faziam do meu quarto intransitável.
São, sim, só coisas.
Mas por que guardamos tantas? Por que queremos tantas?
Por muito tempo julguei ser esta uma questão de ego, de afirmação da própria personalidade.
Mas ao passar dos anos, das faxinas e dos pseudo-entendimentos das crises mundiais, a gente muda de ideia a respeito das coisas. A respeito da importância e da suposta necessidade de todas essas tão abundantes e vagas coisas.

domingo, 30 de outubro de 2011

problemas, drogas e... rock'n'roll!?

Um dia, no carro de uma amiga em direção a um lugar do qual não me recordo - mas que provavelmente envolvia sobremesas - , tive uma pequena epifania.
A amiga, que tinha assistido a uma palestra no dia anterior, estava me contando sobre o que tinha ouvido por lá. "Incrível" e "inspirador" foram algumas das palavras que usou para descrever o que fora o depoimento de um treinador desportivo que trabalhou a vida inteira com deficientes físicos. Ouvindo atentamente o compartilhamento daquelas de fato incríveis histórias, tive, pela primeira dentre todas as vezes em que estive exposta a esse tipo de informação, uma perspectiva diferente da clássica "nossa, meus problemas não são nada, comparados a estes".
O maior problema pelo qual eu estava passando na época, além de não conseguir controlar a vontade de comer doces - que permanece até hoje -, era aceitar numa boa a falta de esforço que eu precisava fazer para passar na faculdade de jornalismo na qual sou, agora, tecnicamente caloura.
Um dos casos contados aquela noite de que me lembro com mais lucidez é a surpreendentemente bem humorada história de uma mulher que, depois de muito tempo sem conseguir aceitar o fato de ter perdido tanto o braço quanto a perna direita, tendo passado muitos dias em casa com vergonha de ser vista; conseguiu se recuperar e reagir tão bem a ponto de declarar estar "procurando sua cara metade". Foi diante de histórias como essa que eu percebi não o quanto minhas dificuldades são insignificantes, mas sim a dimensão da importância de problemas, falhas, defeitos e dificuldades em nossas vidas.
Percebendo o quanto o problema pelo qual eu sentia estar passando era, na verdade, a falta de dificuldades pela qual eu estava passando;  ficou ainda mais claro o quanto nós temos a necessidade de nos superar e enfrentar obstáculos, a ponto de inventar alguns, quando preciso.

Depois de assistir, hoje à tarde, a um documentário - cuja infeliz maioria de termos eu desconheço e tenho que procurar no Google - procurando entender a economia, os bancos, os empréstimos, o derivativos e as crises financeiras; me senti incapaz e triste, mesmo sabendo estar diante de aproximadamente só dois terços (os que eu tinha entendido) do real problema. Apesar de ter me lembrado, com um pseudo-sorriso no rosto, dos manifestantes e dos Occupy-wherever que estão tentando mudar todo o mecanismo dessas coisas complicadas, por um momento me esqueci daquele dia no carro com minha amiga, da então tão aclamada importância de problemas e falhas para nós, humanos.
Foi lembrando de dificuldades bobas do cotidiano e da minha decisão de passar mais um ano estudando para o real desafio que é passar na FUVEST que me lembrei daquele momento de epifania. Me peguei pensando no quanto - assim como dizem que roubar uma bala e milhares de reais têm, no fundo, a mesma essência - problemas, em suas supostas diferentes amplitudes, têm, no fundo, a mesma essência.
Dificuldades, apesar de por vezes intencionalmente vivenciadas, não são sempre enfrentadas. Encarar de frente tudo o que é errado e deve ser corrigido é mais difícil do que, em teoria, pode chegar a parecer. Numa grotesca metáfora, não é todo mundo que tem coragem de abrir o armário, tirar tudo de dentro e, depois de se assustar com o que é a exposição de toda aquela sujeira e todas aquelas bugigangas, organizar tudo, calmamente, tim-tim por tim-tim.
Admiro tanto a quem tem coragem disso. Admiro a quem vai às ruas, seja para lutar por seus ideais ou para mostrar não ter vergonha de ser como se é. Admiro a quem se supera um pouquinho mais a cada dia, e a quem consegue, por enquanto diferentemente de mim, controlar sua vontade de comer doces. Admiro aquelas histórias incríveis de quem perdeu tudo e conseguiu reconstruir a vida. Admiro quem acorda cedo e vai trabalhar.
Lembrando dos banqueiros que não admiro e que se drogam e procuram por prostitutas tentando fugir de seus problemas - dentre estes a frustrada ambição por ainda mais do que a absurda quantia de dinheiro da qual eles já têm posse - , eu admiro a mim mesma - tá? - pelo esforço em encarar esse problema, e espero sinceramente que tanto a sensação quanto a realidade de ser incapaz de ajudar na resolução dele eventualmente vão embora.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

o que ficou para trás (ou não)

Era quem sabe sete e meia da manhã - horário em que, quando estou fora da minha cama, é porque estou na aula - e o Sol já brilhava. Você dirigia por uma das maiores avenidas da cidade, cujas ciclovias e calçadas estavam dominadas por aquela gente estranha que acorda cedo no domingo para correr. Exaustos em um silêncio inevitável e delicioso, ainda na euforia do que foi uma das melhores noites da minha vida, nossos rostos pareciam estar permanentemente estampados com sorrisos bobos. Você tinha uma mão na minha coxa e a outra no volante, e eu, depois de contemplar o fato de a Mundo Livre FM ter conseguido transmitir mais de 3 músicas boas seguidas, te contei que a quarta da playlist era de uma banda chamada Noah and the Whale.
Não sei se consigo por em palavras o quanto era bom estar ali. O jeito como você me olhava, me tratava, me beijava; era tudo novo e maravilhoso para mim, e a única coisa que eu queria mesmo era conseguir retribuir tudo aquilo que você me fazia sentir.
Você me deixou na portaria de casa, e, infelizmente, depois disso não demorou muito para deixar a minha vida.
Nada foi do jeito que a gente esperava, e eu odeio tudo o que aconteceu depois. Odeio nossos desencontros, odeio meus desesperos e todas as mensagens que você não respondeu. Odeio suas ligações nas horas mais inapropriadas, não mais do que a falta delas quando tudo o que eu mais queria era ouvir sua voz.
Por algum tempo, acreditei que tudo ia dar certo, quando o universo decidisse conspirar a nosso favor. Agora vejo, apesar de ser difícil admitir, o quanto tudo foi escolha - quem sabe mais sua do que minha, mas mesmo assim - nossa. Um pouco mais longe de tudo o que aconteceu, é agora também que eu percebo que a única coisa mais errada do que não te ter mais comigo é o fato de eu há muito tempo ter te entregado, de mão beijada, todo o direito que eu tinha de me amar.
O mais incrível é que isso abriu meus olhos para a frequência com a qual tendo a atribuir aos outros a responsabilidade pelos meus sentimentos. É por isso e por tantas outras coisas que te agradeço. Agora sei que é hora de sair e recuperar não só meus direitos e deveres, como também a possibilidade de ouvir uma certa música do Noah and the Whale sem ficar me remoendo e lamentando.
E algo me diz que isso vai ser uma longa e deliciosamente real jornada.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

minha leiga, humilde e contente opinião

Sou do tipo de garota que procura melhorar as coisas. 
Melhorar a mim mesma. Melhorar o ambiente em que eu vivo. Melhorar a convivência, em qualquer aspecto que seja, das pessoas com quem convivo. 
Quando na França, sempre me candidatei a "presidente da classe", e, por dois anos consecutivos, fui de fato eleita. A sensação que eu então tinha (nem que falsa), de que podia fazer a diferença, foi o que fez, sim, uma diferença na pessoa na qual acabei me tornando. Estar de volta ao Brasil, em uma escola na qual pagava-se uma mensalidade absurda e não se tinha nenhuma voz (no auge dos meus 13 anos de idade, jogar isso na cara da diretora em frente a todos os outros alunos fazia eu me sentir o máximo) explicitou esse novo aspecto de minha personalidade. Explicitou o quanto, apesar da escola não estar me fornecendo a possibilidade de dar aos alunos uma "voz", eu insistia em tentar falar alguma coisa. Por questões na maioria das vezes insignificantes e simbólicas, mas, mesmo assim, falar alguma coisa. 
Aos 15 anos, sem querer humilhar ninguém na frente de quem quer que fosse, costumava frequentar a sala da diretora e discretamente lhe questionar: por que não incentivar os alunos a falar? Por que educá-los, já desde cedo, para viverem calados? 
Foi nesse ano que esclareceu-se em minha mente o motivo das greves não serem comuns no Brasil. O motivo dos "panelaços" serem "coisa de argentino", e de manifestações serem consideradas coisa de "vagabundo" que não quer trabalhar. Mas experimente ter 15 anos, em uma sala de aula pela qual ainda circulam bolinhas - tanto de papel quanto de sabão - em plena aula de física, e, ainda assim, ser levada a sério. 
"Acho muito legal sua atitude, Giovana", me dizia ela, sempre. "Vamos ver o que podemos fazer".  
No ano seguinte, diante de uma mudança indesejada no sistema de tarefas da escola, enviei uma carta à diretora. Fui chamada a sua sala. 
"Acho muito legal sua atitude, Giovana. É assim mesmo. E, ó, vamos ver o que dá para fazer."
Então tá bom.
Esperei.

Esperei.

Aceitei. Me acomodei. Desisti. Percebi que "as coisas são assim mesmo", e que não sou eu que vou fazer a diferença.

Passei, depois disso tudo, muito tempo ouvindo minha melhor amiga, saudosista, discursando sobre como a geração dos anos 60 era incrível, e como ela queria que os jovens de hoje fossem às ruas e "lutassem pelo que querem". O que me vinha à mente ao ouvir isso, porém, eram todas as minhas  falhas tentativas de mudar as coisas, além de um bando de hippies drogados fazendo com os dedos sinais de "paz e amor". 

É incrível, felizmente, como, algum tempo depois, tudo pareceu mudar. Minha família, a escola e os jornais da TV pareciam não estar dando o devido valor; mas no começo do ano, as intenções conjuntas de gente de boa índole de todos os cantos do mundo começou a surtir efeito, por meio da internet. E surgiu o WikiLeaks,   e hackers sabotando quem eles diziam merecer, e ditaduras caindo, uma atrás da outra, na tal da Primavera Árabe. Ao longo do ano, mensagens em minha página inicial do Facebook chegaram me convidando para manifestações, desde Anticorrupção até a "Marcha das Vadias". Não sei se as pessoas criaram uma voz, perceberam que a tinham ou se fui eu que obtive, enfim, a maturidade necessária para ter a percepção lúcida de tudo o que de fato acontecia à minha volta. Mas, quando percebi, já estávamos aqui, diante de uma manifestação de proporções a algum tempo inimagináveis contra a crise no sistema financeiro mundial.
Sou uma leiga da economia - até porque minha escola, além de não ter me instigado a dar valor ao poder da minha voz, não me ensinou absolutamente nada sobre finanças  -, mas tenho procurado me informar. Tenho procurado entender, e, acredite, não tem sido fácil, visto que nem ao menos tive um cartão de crédito na vida.
E o que eu entendo - que, honestamente, não é muito - é que tudo isso é lindo.
Passei tanto tempo ao longo do ano tendo discussões deprimentes com meu avô em almoços de domingo, falando sobre mobilidade urbana, o impacto que o consumo de produtos de origem animal tem no planeta e (sim) a crise econômica que pareceu vir à tona aos meios de comunicação aos quais tenho acesso. Ia embora desses almoços, porém, desolada. Pensar no quanto as pessoas que "realmente têm poder de mudança" só querem ter mais dinheiro e mais poder e não se importam com nenhuma das coisas que julgo importantes me deixava indescritivelmente triste, e a sensação de inutilidade diante de tanta coisa ruim e mais coisa ruim é simplesmente inevitável.
Vendo movimentos como o do Occupy Wall Street e lendo discursos como o do filósofo esloveno Slavoj Zizek, no entanto, o inevitável é que um sorriso grande se abra no meu rosto. Estar finalmente vendo minha geração agir e usar sua voz para mudar o que está comprovadamente errado é uma sensação incrível.
É verdade, como também tenho lido por aí, que a manifestação é um tanto quanto vaga, quando se fala de propostas; e que, como diz Zizek em seu discurso, ainda não chegamos ao momento de dizer o que de fato queremos. Mas dizer o que não queremos já é um passo gigante para que cheguemos a isso. Ver a maioria querer jogar na cara da poderosa minoria o fato de 99% também ter o seu poder, um grande poder, só pode ser descrito por uma palavra como estupefante. Acredito que os ocupantes de Wall Street e de tantas outras cidades do mundo estão, assim como eu estive aos 13 anos, estupefatos com a ideia de ter uma voz. Mas, diferentemente de quando eu queria expor fatos inusitados na cara da diretora da minha escola sem motivos fixos, acho que o que mais assusta, impressiona e estupefata a quem agora está impondo sua voz é a ideia de que grandes mudanças podem de fato estar se aproximando.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

o roto e o esfarrapado

Não estava exatamente tendo a melhor noite da minha vida quando um gordinho bêbado chegou para falar comigo, em um bar cujo cheiro não gosto de lembrar. Agora não sei mais dizer qual foi a com certeza criativa abordagem. O que eu sei, de fato, é que a trela que lhe dei foi por puro tédio, e que, quando percebi, uns minutinhos já tinham passado, e eu estava ali lhe oferendo conselhos amorosos.
"O que eu faço?! Eu gosto dela", me dizia o gordinho - e, meu deus, que cabelo engraçado -, "mas ela, SIMPLESMENTE, não me dá bola." Ele e seus cachos despenteados balançavam tanto que me afastei um pouquinho, procurando não levar um banho de vodka. Sua feição me parecia realmente desesperada, mas eu, no auge de minhas grandiosas experiências amorosas, pareci ver, de repente, a solução de todos os seus problemas, com a mais absoluta clareza.
"E por que você gosta dela?", perguntei. Era tão óbvio. Temos aqui, senhoras e senhores, mais um caso de pura idealização. Ele provavelmente nem fala com ela.
"Por que eu gosto dela?" Ele parecia realmente estar tentando pensar. "Cara, não sei."
Há. Na mosca. Idealização. 
"Então para quê?!", perguntei.
"Pra que o quê?!"
"Para que ficar sofrendo em vez de aproveitar a vida. Em vez de aproveitar hoje." Era, apesar de eu ainda não ter percebido, aquela tal história do roto falando do esfarrapado.
O gordinho tomou um gole de vodka, e, logo depois, levantou seu copo. Eu, que já tinha me re-aproximado, me re-afastei. "O amor não é racional", começou ele, com muita certeza. E então sorriu. "Ah, sei lá... Ela me deixa feliz. É por isso que eu gosto dela."
"Ah é?! Você está feliz agora?"
Seu sorriso sumiu. Ele pareceu realmente intrigado. Bêbado, mas intrigado.
"O amor pode ser racional, sim", comecei eu, com mais certeza ainda, e nem sei bem como.
Ele ficou quieto. Estava bêbado demais para escutar qualquer um dos meus conselhos (e, no final das contas, sou grata por isso); e acabou foi pulando e insistindo que eu virasse minha cerveja (proeza da qual sou cientificamente-comprovadamente incapaz) e ficasse com o cara do meu lado.
Não me lembro bem do que aconteceu depois, muito menos de como nos despedimos; mas lembro do resto da minha noite. O fato de eu tê-la passado inteirinha pensando em quem não deveria pensar não me intrigou, contrariamente ao gordinho, nem um pouco. Me parecia tão natural lembrar, naquele momento, de quem eu não devia. Parecia inevitável me lamentar e querer que ele estivesse ali; normal não conseguir aproveitar nenhum minuto da minha noite. Tudo me parecia tão "faz-parte" que me permiti esquecer das rugas de preocupação na testa do gordinho quando lhe contei, cheia de mim, que o amor podia ser racional. E é só hoje, depois de comer uma quantidade um tanto quanto irracional de fatias de pizza e ao me dar conta de que estou ouvindo músicas mais românticas do que eu jamais me autorizaria ouvir, que eu percebo aquele momento.
O roto falando do esfarrapado.
Primeiro de tudo, quem sou eu para falar de amor?
E segundo (mas não menos importante) de tudo, como eu faço para me livrar dele?

A rota pede aos esfarrapados que compartilhem suas propostas e teorias. Por mais furadas, idealizadas e irracionais que elas possam ser.

domingo, 9 de outubro de 2011

Diferentes perspectivas sobre pássaros tem, curiosamente, rondado minha cabeça nesses últimos tempos.
O Tiziu, meu cantante e amarelíssimo canário, foi o único animal de estimação que eu tive na vida, e morreu quando eu tinha 8 anos de idade (De fome. Longa história). Pássaros sempre foram os animais com quem mais simpatizo, e que mais estiveram presentes ao longo da minha vida; desde os pombos que se alimentam nas ruas pelas quais ando até os quero-queros cujas pernas compridas e elegantes eu, sempre de longe devido ao perigo que eles são ditos proporcionar a quem se aproxima de seus ninhos, admiro.
Uns tempos atrás, andando na rua preocupadíssima com o alinhamento do Sol, do cometa Elenin e da Terra, o que supostamente causaria um grande terremoto e chegaria a alterar o norte magnético do nosso planeta, vi um passarinho procurando um material que eu desconheço para construir seu ninho. Ele próprio, para falar bem a verdade, provavelmente também desconhecia o material que devia estar  juntando com seu humilde bico. Eu, com meus polegares opositores bem relaxados, observando a cena de uma certa distância, invejei-o por, além de conviver tão bem com toda essa ignorância, tanto a respeito do material do ninho quanto do cometa Elenin, saber o mais importante: o que ele devia estar fazendo naquele momento.
Uma semana depois, sentada no ônibus ouvindo Rita Lee em um dia de sol, ser humana voltou a me satisfazer por completo. Planejando passar no mercado antes de ir para casa, pensei, lembrando do dia em que invejei um passarinho, sobre como o fato de eu poder conscientemente apreciar o sol, andar de ônibus, ter um iPod e fazer um sanduíche com muitos ingredientes quando chegasse em casa me deixava feliz, enquanto um passarinho, na sua feliz ignorância, nunca teria nada disso.
Hoje de manhã, sentada à mesa da cozinha enquanto me lembrava da noite passada, a situação estava bem diferente. O dia estava cinza, e minha solidão, palpável, me deixava absurdamente triste. O nó na minha garganta não fazia do meu pão com geleia muito agradável, e o iPhone que eu tinha nas mãos, apesar de inventado por Steve Jobs para ser um instrumento que interliga mais facilmente as pessoas, não conseguia mudar em nada o quão indescritivelmente sozinha eu me sentia. Olhando a chuva pela janela com lágrimas nos olhos, de repente avistei um passarinho, se protegendo embaixo do guarda-sol do jardim. Olhando ele ali, sozinho, observando o mundo ao seu redor e se protegendo da chuva como eu, finalmente percebi o quanto, apesar das milhões de diferenças, ainda podíamos ser iguais.

O fato de o único animal de estimação que tive na vida ter estado preso em uma gaiola sendo admirado de longe diz mais sobre mim do que pode parecer.
Admirar pássaros é fácil. Eles cantam, constroem ninhos para cuidar dos filhos, conseguem voar e têm penas bonitas e coloridas. Além disso, é fácil aceitar as diferenças entre nós e eles, já que somos espécies completamente diferentes.
E admirar pessoas? Aceitar as diferenças que existem dentro dessa nossa complexa espécie é uma das maiores dificuldades que sinto ter. (Eu e a torcida do Flamengo. É só você lembrar das manchetes absurdas que seguimos vendo nos jornais.)
Como podemos ser eu e meu próprio irmão, que nasceu da mesma barriga e foi criado na mesma casa, tão diferentes um do outro? E como podemos, sendo os animais que somos, não saber e não ter aprendido a lidar com isso ao longo de nossas vidas?
A variabilidade genética é um artifício usado pela natureza para ajudar a perpetuação das espécies. Por que essa nossa birra contra ela?
Em nossas variações de cores, aparências, classes sociais, pesos, gêneros sexuais, orientações sexuais, opções alimentares, religiões (ou falta delas), nacionalidades, etnias e gostos; encontramos naturalmente a necessidade de nos agrupar. Mas será que o repúdio e o ataque aos demais grupos é igualmente natural?
Hoje de manhã, me sentindo um one-(wo)man-group, pensei em todas as minhas atitudes de repúdio e intolerância para com os outros; e me odiei por isso. Eu não sou, como feliz ou infelizmente constato todos os dias, um animal, e minha consciência e razão deveriam falar mais forte do que qualquer coisa.
O que é acontece, no entanto, é bem diferente.
Essa solidão que tem me afetado tanto nas últimas semanas é um claro reflexo da ilusão à la Vanilla Sky que gosto de viver. Não sei direito como reagir quando a vida de verdade tenta se manifestar, e construir paredes que não me deixam efetivamente enxergar ninguém parece sempre ser a melhor opção.
E é mais que óbvio que não é. Percebo agora o quanto a música da Rita Lee que eu ouvia naquele dia de sol no ônibus fala sobre mim. Sobre como estou bem comigo mesma, e sobre como "agora, só falta você".
A verdade é que há vários vocês em minha volta, e tenho consciência de que são minhas as atitudes que têm que mudar para suprir essa tal falta. Sem ter que achar obrigatoriamente um ponto em comum para conseguir apreciar alguém, diferentemente do passarinho hoje de manhã, quero genuinamente conseguir conviver com as diferenças.
E que bom que um não tão belo dia, resolvi mudar.




sábado, 1 de outubro de 2011

diz pra mim, cadê você

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

essa metamorfose ambulante

Me lembro com lucidez daquela noite, em 2008. Não pelos acontecimentos em si, que não foram, aliás, muitos; mas pelas conclusões na qual parte deles me fez chegar.
Era um calorosíssimo mês de outubro, e eu e mais uma significativa quantidade de jovens-com-acne estávamos sentados lado a lado no meio do mato. Nosso acampamento escolar estava chegando ao fim, e os organizadores, procurando uma sorte de "fechamento", tinham planejado uma noite especial para que compartilhássemos histórias em volta de uma fogueira. (Sem marshmallows. Aí seria plágio genuíno daqueles filmes americanos dos anos 90 que costumam passar na sessão da tarde.)
O fechamento, no entanto, não estava sendo muito confortável para mim. Além da dureza do tronco de árvore que nos servia de banco, o calor vindo daquela fogueira era gritante, chegando a machucar meus olhos e a fazê-los lacrimejar. Passei algum tempo mentalmente me lamentando a respeito disso, mas, depois de me distrair por algum tempo com histórias das quais agora não me lembro e com o exagero de choros alheios, percebi o quanto estava bem. O quanto meus olhos estavam bem. As lágrimas tinham secado, e o calor que antes me parecia absurdo me parecia, de repente, normal. Gostoso.
Fiquei abismada.
De repente me esqueci completamente que as garotas que me rodeavam, que forçavam a barra e choravam demasiadamente diante de histórias insignificantes e de palavras clichês, me indignavam, e passei o resto da noite contemplando minha pequena epifania: nós, seres humanos, podemos nos adaptar a qualquer coisa.
Tudo, naquele momento, parecia ter se esclarecido para mim. Como quando, naquela tarde mesmo, tinha contemplado meus pêlos arrepiados através da água gelada da piscina minutos antes de estar nadando tranquilamente e sem frio pelas mesmas águas, percebi o quanto era incrível essa nossa capacidade de se acostumar.
Apesar dos draminhas irritantes daquelas tais garotas, que me lembram hoje da teoria que eu tinha sobre as pessoas e sobre as intenções idiotas que elas têm quando fazem as coisas (que provavelmente diz mais sobre quem eu sou era do que qualquer outra coisa); é disso que me lembro mais quando penso naquela noite: da minha pequena grande epifania.

Três anos depois, um adorável problema hormonal faz da acne ainda presente em minha vida em minhas bochechas, mas a maioria das coisas mudou bastante. Algumas delas, além do caso infeliz da acne, permaneceram iguais, como meu gosto por observar e pensar nas coisas da vida.
Às vezes a sociedade me parece uma prisão; outras, me é claro até demais o quanto o homem é livre. Agora, o que mais faz sentido para mim, lembrando daquela fogueira, é o quanto nossa vida, apesar do que possa permanecer constante, é uma eterna mudança, onde procuramos sempre encontrar pessoas, ideias e objetivos que nos inspirem e pelos quais sentimos valer a pena fazer um esforço e se adaptar.


(Algumas ideias atuais pelas quais julgo tentativas de adaptação extremamente válidas:










A escolha entre fazer um esforço por essas ideias ou não e a de eleger pessoas e objetivos inspiradores de adaptações; esses ficam por sua conta.
Eu não obrigaria ninguém a nada nem que quisesse.)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

HUMANOS

"Os humanos são os únicos animais que têm filhos de propósito, mantêm contato (ou não mantêm), se preocupam com aniversários, perdem tempo, escovam os dentes, sentem-se nostálgicos, esfregam manchas, têm religiões, partidos políticos e leis, usam coisas de valor afetivo, pedem desculpas anos depois de uma ofensa, sussurram, têm medo de si mesmos, interpretam sonhos, escondem sua genitália, se barbeiam e depilam, enterram cápsulas temporais e optam por não comer alguma coisa por questões de consciência. As justificativas para comer animais e para não os comer são, com frequência, idênticas: nós não somos eles."

Jonathan Safran Foer, "Comer Animais"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

plantae


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

reflexões em banheiros alheios

Escovar os dentes faz parte daquele grupo de atividades banais que acabamos, eventualmente, fazendo "no automático". Eu procuro, mesmo assim, nunca permitir que isso aconteça.
Odeio não prestar atenção no que estou fazendo, seja lá o que for, e no meu ponto de vista, escovar os dentes devagarzinho, cuidadosamente e tendo certeza que você limpou todos os cantinhos possíveis é essencial. Hoje, no entanto, às 4 da tarde em frente ao espelho de um banheiro que não era o meu, não estava exatamente conseguindo me focar.
Observando meus cílios e meu rímel borrado no espelho, eu tinha é me perdido por um momento, pensando aleatoriamente sobre como, sob o ponto de vista biológico, o homem é um animal engraçado que criou um artifício para alongar e realçar alguns de seus pelos ao mesmo tempo em que se viu bem satisfeito com a descoberta de tecnologias para acabar definitivamente com outros.
A força aplicada na minha escova de dentes, em um dado momento, acabou se desviando para onde não devia, e quando machuquei minha gengiva percebi que minha reflexão sobre a humanidade, seus diferentes tipos de pelos e a maneira com que cada um deles é visto não era apropriada para o momento.
De volta à minha boca, escovando aqui, ali do lado, lá atrás e procurando ignorar o fato da minha gengiva estar doendo, acabei, e eu não entendo como, me perdendo de novo.
A humanidade voltou à tona a meus pensamentos, mas, dessa vez, pelos não estavam envolvidos. Num momento meio rebelde-sem-causa, me vi meio revoltada com todo mundo, pensando naqueles paradigmas ridículos que impedem muitas vezes que façamos o que realmente queremos.
Terminei de escovar os dentes, peguei minha bolsa e chamei o elevador. Andando na rua num dia de sol, com fones nos ouvidos, minha mente relaxou. Andei até minha escola de Yôga, de onde saí, depois de duas horas de prática, mais leve e mais esclarecida das ideias.

Tanto leis quanto regras explícitas e implícitas estão presentes em nossas vidas, nos impondo o tempo inteiro uma realidade que não necessariamente deveria ser real. Às vezes, como enquanto escovava meus dentes hoje à tarde, paro e me pergunto até que ponto vai de fato a nossa tão-aclamada liberdade. Me cansa perceber quanta gente por aí anda fazendo coisas certas porque "tem que fazer", não fazendo o que quer porque "não pode".
Pensei no quanto tanto minha vida como as das pessoas que convivem comigo seria melhor se nada disso existisse; se pudéssemos, em vez de seguir regras como um bando de burros, usar nosso bom-senso e inteligência para fazer nossas decisões.
Não defendo de maneira alguma a anarquia.
Mas o que está acontecendo com as pessoas? Quando é que tudo ficou assim tão preto-e-branco?
Tudo isso me faz pensar em tanta coisa.
Soluções para aquelas relações problemáticas entre pessoas, para brigas familiares, para atitudes que "não conseguem ser mudadas", momentos nervosos desnecessários e para essa história de descriminalização da maconha pareceram de repente brotar em minha cabeça.
Eu posso salvar o mundo.

E é então que eu percebo, lembrando da quantidade absurda de açúcar que comi ontem à tarde procurando consolar um momento de pura auto-piedade: quem sabe o máximo que eu posso fazer é salvar a mim mesma.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011





domingo, 28 de agosto de 2011

a todos cuja companhia escolhi ter em minha vida

(Tenho, sim, noção do sentimentalismo exagerado do título. Fazer o quê?!
Esse post é uma dedicatória.)

Em Sex and the City, Carrie parece estar constantemente percebendo e questionando sentimentos e comportamentos, em si mesma e em seu círculo social. Essas percepções e questionamentos acabam fazendo com que cada episódio do programa tenha um “tema” específico, sobre o qual a protagonista discursa em seus artigos e ao redor do qual as vidas de todos os personagens tendem a circular.
É engraçado o quanto isso, apesar de parecer não condizer com a vida real e ser só mais uma “coisa de TV”, é, pelo menos para mim, muito comum na vida real.
Chega a parecer que algumas semanas ou meses de minha vida foram cautelosamente programados por alguém tão adepto a “temas” quanto os roteiristas do meu adorado seriado.

Depois da importante percepção que tive na última sexta feira, o desenrolar dos fatos do meu fim de semana parece querer me levar a questionamentos e mais questionamentos sobre o tema “influência”.
Cursos, revistas e falas marcantes desde o último dia da semana têm parecido rondar o significado dessa palavra, fazendo com que o efeito que as pessoas com quem convivemos têm em nós ficasse, de repente, absurdamente explícito para mim.

Eu, apaixonada pelo mecanismo da comunicação, vegetariana, outgoing, praticante de yôga, adoradora da gastronomia e da biologia; acreditava nunca ter sido significativamente influenciada por minha família, que costuma sentar numa mesa de churrascaria, sem falar mais do que o estritamente necessário uns aos outros (para melhor aproveitar a “fartança” do rodízio, com certeza), voltando para casa logo depois da refeição, sem nem parar para a sobremesa, tendo como planos em mente não fazer nada pelo resto do dia.

Por muito tempo, essa aparente falta de influência de minha família em mim me frustrou.

Como meus pais e meu irmão trabalham fora, criei com o decorrer dos anos o hábito de freqüentar casas de amigos durante a semana, e é curioso o que essa experiência me faz. Quando nessas casas, sempre me pareceu claro o quanto as principais características de meus amigos eram derivadas de seus pais, de sua família e do jeito como eles encaravam o mundo. Na minha casa, e eu não entendia por que, nunca pareceu ser assim.

Sentindo-se excluída por mim e pela minha ignorância dos fatos, no entanto, a influência resolveu bruscamente se manifestar, chacoalhar minha cabeça e abrir meus olhos. E funcionou. Aqui estou eu para afirmar: ela está aí. Sempre.

Muitas vezes, por todas essas divergências na hora de escolher em qual restaurante almoçar, qual seria o assunto discutido durante a refeição e o que faríamos depois; me senti avulsa. Sozinha, como se eu não fizesse de fato parte da família. Isso, apesar de me deixar meio triste, me dava uma sensação de liberdade incomparável, como se eu não dependesse deles (há-há), e como se pudesse simplesmente ser quem eu bem entendesse.

Mas a verdade é que eu não posso. Não é bem assim que as coisas funcionam.

A família sendo o principal dentre eles, fazemos parte, em nossa vida, de grupos de pessoas que nos influenciam constantemente.
Sendo ela boa ou ruim, desejada ou não, visível a olho nu ou só pelo olhar que contraímos quando deitados no divã, a influência que as pessoas com quem convivemos têm em nós é gritante, e, segundo muitos dos textos que tenho lido no fim de semana cujo "tema" é justamente esse, faz parte do funcionamento biológico do ser humano.

As influências que minha família tem em mim são, em grande maioria, daquelas que só se vê sob o olhar da análise. Na superfície, nossas gigantescas diferenças não nos deixam ver o quanto somos iguais.
Acredito que seja justamente esse tipo de influência, a invisível-a-olho-nu, que não nos deixa, assim sem mais nem menos, ser quem quisermos, escolher quem queremos ser.

Não é simples a percepção do quanto nossos laços sociais nos afetam. Mas é uma consciência necessária.
Apesar de não termos como escolher nossas famílias, temos, sim, como escolher se convivemos ou não com elas.
Temos como escolher, a todo instante, com quem convivemos, e, consequentemente, por quem nos deixaremos influenciar.
E isso é quem sabe o mais perto de “ser quem bem entendermos” que eu, minha família e você jamais vamos chegar a conquistar.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Hoje decidi não estudar.
Uns minutinhos após o almoço até peguei na apostila e dei uma lida em biologia, mas acabei trocando a maravilha que é - e não estou sendo irônica - a análise cromossômica por uma deliciosa tarde com o lap top no colo, comendo morangos e biscoitos salgados no sofá da minha avó.
Passei, e eu lamento, tempo demais contemplando a vida alheia no Facebook (esse negócio é mesmo viciante), mas os focos internáuticos (me odeio por ter usado essa expressão idosa) hoje foram outros: a procura por receitas interessantes (estou planejando fazer hambúrguer de cenoura na semana que vem) e, principalmente, a leitura de blogs (de minha própria autoria) da década passada. (Estou amando parênteses hoje).
Agora, enquanto a tarde vai se aproximando do fim e eu vou percebendo o quanto deveria ter maneirado com os biscoitos salgados; sinto-me um pouco diferente.
Passar tanto tempo convivendo com sentimentos antigos explicitados pela escrita sempre gera em mim um tipo de estranhamento gostoso. Escrever sempre fez parte do meu cotidiano, diferentemente desses 120 exercícios diários que eu tento, mas nunca consigo terminar, e ler a mim-mesma é uma atividade profunda que chega quase a ser uma terapia.
Esses momentos-exclusivamente-meus são raros, e a amplitude deles é ainda maior do que aqueles meus banhos, que às vezes chego a demorar mais de 15 minutos para tomar. Essa ideia de conviver, ao mesmo tempo, com quem sou, com quem fui, e, quase que consequentemente, com quem pretendo um dia ser, me faz um bem inexplicável. Lembrar do que eu sentia uns cinco, seis anos atrás me reintegra e abre meus olhos para a absurda e linda diversidade que existe aqui, dentro de mim mesma, o que inclusive me faz questionar a estúpida intolerância que cultivamos contra a diversidade que existe entre as pessoas.
Passei algum tempo pensando nisso hoje à tarde, entre um site de receitas e outro; e sentindo uma saudade engraçada de cada uma entre todas as eus que já fui.
Sei que existe um mundo incrivelmente complexo por dentro de cada uminha de nossas membranas citoplasmáticas, e que, se esticada, toda a fita de DNA proveniente de todas as nossas 60 trilhões de células teria aproximadamente 102 bilhões de quilômetros. A maravilhosa complexidade do ser humano, no entanto, com certeza vai muito, mas muito além do plano físico. Ela está em nossa mente, em nossa história, está no que gostamos de chamar de "eu", ou, como constatei hoje à tarde, "eus".
A compreensão e o estudo disso, além da escrita, são com certeza aspectos que quero aprimorar ao longo da minha existência.
Queria ter mais tempo para isso, e menos tempo para superfícies equipotenciais no campo elétrico uniforme em minha vida. No entanto, por enquanto é justamente isso que me aguarda.
Resta-me apenas esperar pelo que o futuro me guarda.
(Esse jogo de palavras não foi intencional, mas até que ficou legal.)
(Ai ai, não consigo parar de rimar)

sábado, 23 de julho de 2011

such a huge ego

Quem sabe pelo fato de a minha vida andar repleta de altos e baixos, de sentimentos intensos, de confusões, desentendimentos, choros e sorrisos esses últimos tempos; essa semana, uma frase que retwittei faz mais de 2 anos me retornou à cabeça, e de lá não quis mais sair.
Como quase tudo o que vem da internet na atualidade, não sei dizer direito quem foi seu autor, mas a frase é linda e foi compartilhada com todos os que estiveram dispostos a ouvir minhas teorias furadas sobre a vida nos últimos cinco dias. Atribuí-a a Nelson Mandela durante as tais conversas, mas o google propõe também a possibilidade de o autor ser Carl W. Buechner, ou ainda Maya Angelou. Sinceramente, não sei, mas eis o que ela diz: que na vida, podemos esquecer o que nos dizem, esquecer o que nos fazem, mas nunca esquecer como nos fizeram sentir.

Hoje, mais cedo, vivenciando um dos baixos da semana voltando da janta em silêncio no carro com meus pais; lembrei-me mais uma vez daquelas palavras.
Olhando pela janela, me lamentando e pensando na P.A. de absurdamente grande razão que representa o afastamento dos membros da minha família a cada dia que passa; me peguei pensando no quanto meus pais me desagradam. (Escrever isso me faz sentir mal, ingrata e um tanto quanto imatura; mas no fundo só estou retratando o momento com a mais pura sinceridade.)
O som do meu choro estava sendo ofuscado pelo volume alto de alguma música do Phill Collins, que eu, não sei bem como ou por que, sabia de cor. Isso me dava liberdade para ficar na minha, sem ter que explicar para os que estavam na frente do carro o motivo das lamentações (que era justamente eles.) Deitada de maneira relativamente confortável, curtindo tanto minha tristezinha quanto o balanço do carro, passando pelos buracos da rua, tentei lembrar-me de coisas boas que meus pais fazem por mim.
E foi então que peguei minha imaturidade no flagra.

Fazendo um balanceamento mais racional das atitudes que os dois têm perante a mim, ficou claro o quanto Mandela / Buechner / Angelou estava(m) certo(s) com aquela frase do Twitter.
Ali, naquele momento regado a auto-piedade, eu tinha esquecido muitas das coisas que meus pais falam e fazem, me deixando levar de maneira estúpida pelo suposto "jeito que eles andavam me tratando".

A música passou de Phill Collins para John Mayer, e eu, ainda ali deitada, comecei a pensar na assustadora frequência com que esse fenômeno-regado-a-auto-piedade acontece na minha vida. De repente me dei conta do quanto somos todos egoístas, e de como as efetivas impressões que nos restam das pessoas não têm nada a ver com elas e com o que dizem, falam ou tentam, com tanto esforço, demonstrar. Têm a ver com nós mesmos.
Me dei conta de que o que as pessoas nos fazem sentir é, simplesmente, fruto da nossa - quem sabe inconsciente, mas ainda assim nossa - própria vontade.
Por um instante, esqueci-me de tudo o que tinha acontecido no jantar, e pensei no quanto eu queria me livrar de todo aquele rancor e egoísmo.

Será que temos essa capacidade?
De nos livrar de toda essa "bagagem emocional"?
Será que um dia poderei dizer ter conhecido alguém pelo que ela realmente foi?
Nossa mente, apesar de útil e essencial para tantas das tarefas que nos tornam quem somos; me pareceu de repente um grande empecilho que me vi tentada a enfrentar.
Será isso "desfazer-se do seu ego"?
O que faríamos, se conseguíssemos nos desfazer dele?

Senti o carro freiar, e, ainda com a bochecha molhada rente ao couro do banco, pedi desculpas a meus pais num volume alto o suficiente para superar John Mayer. Descemos do carro e nos abraçamos meio dramaticamente. Eles, depois de termos entrado em casa, subiram e foram dormir enquanto me dirigi à cozinha para fazer chá.
Sentei-me sozinha no sofá, depois, e fiquei ali, curtindo o calorzinho da bebida, pendando um pouco mais na vida. (Não era pra rimar)
Acho que nunca me canso disso.
A verdade é que continuo não sabendo de nada.
Não faço muita ideia de como quebrar aquele empecilho.
Mas algo, ainda assim, me diz que eu estou no caminho certo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

writing and wandering around

"I write for four hours straight, until hunger forces me out in search for food. I wander dazedly into the deli, the characters still in my head, yapping away as I buy a can of soup, heat it up, and place it next to my typewriter so I can eat and work. I beetle on for quite a while, and when I finally feel finished for the day, I decide to visit my favorite street.
It's a tiny, brick-paved path called Commerce Street - one of those rare places in the West Village that you can never find unless you're actually looking for it. You have to sneak up on it by using certain landmarks: the junk store on Hudson Street. The sex shop on Barrow. Somewhere near the pet store is a small gate. And there is it, just on the other side.
I stroll slowly down the sidewalk, wanting to memorize each detail. The tiny, charming old houses, the cherry trees, the little neighborhood bar where, I imagine, all the patrons know one another. I take several turns up and down the street, pausing in front of each house, picturing how it would feel to live there. As I gaze up at the tiny windows on the top floor of a red-brick carriage house, it dawns on me that I've changed. I used to worry that my dream of becoming a writer was just that - a dream. I had no idea how to do it, where to begin and how to continue. But lately, I'm beginning to feel that I am a writer. This is me. Writing and wandering the Village in my scrubs."



domingo, 10 de julho de 2011



Apesar da dor nas costas que sinto agora, depois de uma longa viagem de carro reconheço que às vezes isso é simplesmente tudo o que a gente precisa: o sol, a boa música e o dia inteiro para ficar quietinho, pensando na vida.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Tentativas de escrever não faltaram.
Eu estive aqui, algumas vezes, escrevi algumas linhas e passei algum tempo pensando na vida; tendo como resultado final sempre a mesma página em branco e a mesma sensação de "que bosta, perdi o dom, qual será agora meu novo conceito de ganha-pão?".
Não que eu trabalhe ou ganhe meu próprio dinheiro, nem por esse blog nem por nenhum outro meio. Dedico-me aos estudos 100% do meu tempo e sou 100% sustentada por mamãe-e-papai.
Quando o futuro, aquele no qual penso com tanto carinho toda vez que vejo um Picanto na rua ou que passo ao lado de uma floricultura que tem aqueles vasinhos de pendurar no teto, entra em questão; sinto um prazer, idealizado, mas que me parece natural, junto com uma pontinha de um tipo de medo ansioso, com uma sensação estranha e ao mesmo tempo excitante de que nada daquilo virá um dia de fato a se realizar.
A vida é tão indescritivelmente confusa e imprevisível, e eu percebo, quase todos os dias, não só em mim como nas pessoas ao meu redor a grande dificuldade que representa admitir não só isso como também a magnitude da nossa ignorância a nós mesmos.
Pensando no jornalismo, um dos cursos que pretendo fazer no vestibular, como uma maneira de compartilhar o conhecimento; às vezes me vejo perdida e sem rumo.
O que eu sei? O que tenho capacidade de saber? Até onde pode ir meu conhecimento e sua real utilidade? Até onde ele pode, efetivamente, ser comunicado e compartilhado?
Acredito fortemente que as oportunidades que julgo "a serem agarradas" deveriam ser mais enfatizadas por nossos pais e orientadores, que tanto enchem nossas cabeças com conselhos e dicas e mais dicas envolvendo nossas vidas acadêmicas e profissionais. Acredito fortemente mesmo, que a oportunidade de perceber essas coisinhas, naqueles momentinhos, seja no meio da aula quando você deveria estar se concentrando para passar no vestibular mas é distraída por um cheirinho de cebola em conserva, seja vendo um filme bobo com alguém bobo e cheio de defeitos com quem você ama conviver; é milhões de vezes mais importante do que todas aquelas outras dicas juntas.
Acho tão essencial quanto lindo e gostoso o sentimento de ver as coisas por um outro ponto de vista. Significa constituir uma nova rotina, mesmo quando continuam-se fazendo as mesmas c
oisas.
Nessa (ênfase agora na adorável expressão que vem em seguida) era digital, onde informação e mais informação é supostamente compartilhada loucamente a cada segundo que passa, com Twitter e Facebook e não sei mais o que, eu me permito sentar e me perguntar se é isso que eu realmente quero. Se tenho capacidade para isso. Parece que, nos últimos tempos, tudo que as pessoas querem é que seus amigos retwittem e curtam o que foi dito e escrito, sem preocupar-se de fato com o que ou, ainda, por que foi dito e escrito.
Na última aula de literatura que tive antes das férias, onde estudamos vanguardas do século passado, me peguei pensando no Tumblr, e me perguntando se um dia no futuro vai ser estudada a arte da (sim) era digital. Esse site é realmente incrível e permite uma das coisas mais lindas (literalmente) que a internet pode de fato nos fornecer atualmente: o compartilhamento rápido e fácil da arte.
Não acredito que a comunicação, no entanto, seja uma arte, e sim uma ferramenta, de base, aliás, para a vida humana. A sensação de saber exacerbado que a Internet (e, no meu atual caso, o estudo para o vestibular) nos dá não passa de uma gigantesca armadilha.
Eu não sei muito, quem sabe possa até dizer que não sei nada. Sei o nome dos órgãos de uma flor e o ciclo reprodutivo das plantas. Sei quantos elétrons tem o Iodo em sua camada de valência, e que ele, quando substitui um hidrogênio em um hidrocarboneto, forma um haleto orgânico. Posso entrar no Wikipédia agora e pesquisar sobre o que eu quiser, ler sobre o que eu quiser e compartilhar com muitas pessoas o quanto eu acredito e constantemente penso sobre a Hipótese Heterotrófica de Oparin.
É engraçado, mesmo assim, o quanto eu continuo sentindo a necessidade de compartilhar minha ignorância por aqui, na mesma Internet onde tudo aquilo está acontecendo, em plenas frias férias de julho.
Férias de julho onde a ignorância explícita, em gigantesco contraste com os estudos adoidados para o vestibular, vem à tona, me enche de alegria e dá muito espaço à vida.
E tudo isso é simplesmente necessário. Nem mesmo minha adorada Hipótese Heterotrófica de Oparin cola em momentos como esse. Apesar dos embasamentos científicos, das experiências e de todo o sentido que ela faz, inclusive para mim; me perdoe, Oparin, você é demais, mas ela continua sendo apenas uma hipótese.

domingo, 3 de julho de 2011

domingo, 5 de junho de 2011


"we could sit for years

staring at our fears"

sexta-feira, 3 de junho de 2011

sobre enganos e cebolas em conserva

Há vezes em que, por mais que pareça que estou presente na sala de aula e dando à matéria a devida atenção; algo de estranho é extremamente perceptível. Meus olhos, fixos demais no quadro-negro, denunciam que minha mente não está realmente ali, mas sim em qualquer outro lugar. Os mais frequentes aos quais minha mente gosta de fugir durante manhãs escolares são, com a aceitável e cronologicamente possível frequência, descritos por aqui.
O que vou descrever agora se passou hoje durante a manhã, e acontece bastante, para falar bem a verdade. Uma duziazinha de horas atrás estava eu na sala de aula, prestando, sim, atenção no professor de português, que falava sobre Brás Cubas e suas memórias póstumas. Mais tarde, porém - e foi inevitável -, minha mente fugiu para um daqueles lugares-mais-comuns-de-fuga, quando um cheirinho de cebola apareceu do nada e foi, aos leves, preenchendo minha narinas.
Sou magra de ruim, e já me falaram que, quando apenas ouvindo o que digo, é possível crer-se ao lado daquelas gordinhas insaciáveis que vivem para comer. Isso quem sabe justifica.
Depois de algum tempo contemplando o fato de eu estar com fome, hoje de manhã, percebi que aquele cheiro não era exatamente normal. Não era, aliás, possível; eram só nove horas da manhã, e não seria plausível, além daqueles comedores de salgados recheados de frango e dos bebedores de Coca-Cola matutinos, comedores de cebola mais de duas horas antes do almoço aparecerem, assim de repente, na minha vida. Perguntando a uma amiga sobre o tal cheiro e recebendo um "Como assim cheiro de cebola?" como resposta, percebi como tudo viera de minha própria cabecinha, aparentemente insaturada apesar do bombardeamento de informações que sofro sem parar todas as manhãs.
Associando o fator fome com o cheiro-de-cebola-psicológico - e, nessa altura do campeonato, Brás Cubas já tinha ido parar do outro lado do mundo - percebi o quanto eu estava com vontade era de comer salada de batata, e o quanto aquele cheiro de cebola em conserva, que eu estava sentindo mas que não existia de fato, me lembrava dos churrascos da família Feix e de pão com maionese - maionese também conhecida como salada de batata, aquela que, hoje de manhã, conseguiu, nem que por alguns instantes, efetivamente saturar meus pensamentos.
Desistindo de Machado de Assis e de seu defunto, comecei a pensar sobre o quanto é fácil se enganar. Não sobre como os outros, mas sobre como nós, nós mesmos, nos enganamos, o tempo inteiro. Por meio dos nossos sentidos, por meio das nossas aparentes vontades; por meio do nosso cérebro, que não é tão simples quanto se pensa, nele cabe o que não cabe na dispensa e que chega, por vezes, até a confundir cebola em conserva com salada de batata.
Eu sei que o trecho de Oração foi quem sabe desnecessário e que esse exemplo dos cheiros foi provavelmente o pior já utilizado na história deste blog; mas, naquele momento, naquelas nove horas da manhã cheirando a cebola em conserva, eu realmente tive uma pseudo-epifania sobre a frequência com a qual enganamos a nós mesmos. Lembrei-me da aula sobre alimentação que tinha tido no Método DeRose no dia anterior; e de como meu instrutor falara não só dos nossos vários tipos de alimentação (física, emocional, mental e intuicional), mas também da facilidade que temos para confundi-las; erroneamente pensando que suprimos uma carência na alimentação emocional com um alimento físico, por exemplo. Lembrei-me, também, das vezes que chego na minha psicóloga reclamando do meu pai e ela me ajuda a perceber que o problema tinha raízes muito além da minha relação com ele.
Olhei à minha volta e percebi o quanto estive enganada a semana inteira, ao sentir-me sensibilizada e mal-amada diante da forma como meus amigos andavam me tratando. Percebi o quanto todos nós, ali naquela sala de aula, sendo juntamente bombardeados de informação todos os dias, estávamos exaustos, mas estávamos ali. Percebi o quanto todo mundo estava de saco cheio, inclusive eu, e que o fato de eu me sentir sensível e mal-amada tem milhões de vezes mais a ver com isso e comigo mesma do que com qualquer outra coisa e pessoa.
Percebi o quanto, apesar de estudarmos mais de 4 horas por dia e de sabermos, dentre outros milhões de fatos inúteis para a maioria de nossos futuros como profissionais, que a bactéria que ajuda as plantas a absorver nitrogênio se chama Rhizobium; nós estamos 95% do tempo completamente enganados. Percebi, aliás, o quanto não só nós, estudantes judiados com bundas cada dia mais achatadas, como também todo mundo, inclusive nossos idolatrados professores, nos enganamos com espantosa frequência.
É por isso que vim aqui, perder mais de uma hora do meu dia lendo, relendo, apagando e me perguntando se publicar um texto desse tamanho falando sobre cebolas é aceitável. Além de estar com saudades da escrita e de necessitar querer dar um tempo no meu relacionamento com minha apostila, eu tive, sim, de escrever tudo isso, para depois finalizar com uma só frase.






viva a humildade









(Sim. Tudo isso começou com cebolas.)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ondas, óptica e acústica

Chega de estudar. Nem que só por hoje. Só por essa manhã. Ou, tá bem, só por essa aula.

O que acontece é que, desde a segunda-feira que tive que passar em casa com amigdalite tomando sopa de legumes esquentada no microondas, meu não-entendimento em Física-D vem aumentando significativamente. Como uma bola de neve, podemos dizer, ou, vestibulosamente falando, como uma P.A. de relativamente grande razão.

Hoje, enquanto refletia se o índice de refração absoluta do prisma do exercício 2 era maior do que o do ar (o que, e só agora vejo isso, dispensa reflexões; o índice do ar é o menor do universo), vi minha mente ser abruptamente dominada por persistentes pensamentos sobre minha pseudo-existente vida amorosa.

Agora, porém, depois de criar coragem (sou mesmo muito politicamente correta) para ignorar o professor e para oficialmente parar de tentar entender toda essa história de reflexão e refração; depois de escrever toda essa introdução caprichada que eu já li e reli umas 7 vezes, vejo o quanto não tenho nada a dizer sobre aquele assunto. Diante dos últimos acontecimentos, acredito que minha vida amorosa tenha sido simplesmente o caminho mais fácil encontrado por meu cérebro para me convencer de que há, sim, assuntos de mais complexa e remota solução do que a física.

Pois é. O negócio é que eu não me engano.

Primeiro porque, pelo menos no momento, afirmo com convicção não estar convivendo com nada de mais complexa e remota solução do que essa complicada ciência, que me persegue e perturba desde 2006.

Segundo porque, mesmo que o passado tente me incomodar e me fazer sentir mal sobre mim mesma (e, aqui, me refiro à vida amorosa e não à física, por mais incrível que possa parecer), meus olhos estão presos, estou focada demais no meu presente para me importar; tendo como única distração o futuro igualmente agradável que consigo ver com o cantinho dos meus olhos.

Olhos, aliás, que me lembram sistemas ópticos, que me lembram que eu tenho, sim, que prestar atenção nessa aula, para quem sabe descomplexar a solução e me aproximar, nem que só um pouquinho, da compreensão de toda essa baboseira.

Isso só porque percebi o quanto o resto, aquele restinho lá, já está devidamente encaminhado.

quarta-feira, 4 de maio de 2011



sábado, 16 de abril de 2011

Não tenho tempo.
Tenho que acordar às 6 horas da manhã e tomar café correndo para não me atrasar para a aula.
Tenho, aliás, de ir para a aula todos os dias, até nos sábados, às 7h10 da manhã, e ficar por lá, sentada naquela cadeira à qual minha bunda já está adaptada, até 12h20; recebendo informações de professores que realmente sabem do que estão falando, já que a maioria deles dá aula a mais de 25 anos.
Tenho 120 exercícios (não-físicos) para fazer todas as tardes, para fixar todas as informações que recebi pela manhã na minha cabeça. Cabeça que, assim como minha bunda em relação à cadeira, em apenas 7 semanas já se adaptou tanto a estudar que está raciocinando e associando as coisas mais rápido do que nunca.
Tenho que praticar yôga pelo menos uma hora por dia.
Tenho que reservar uns minutinhos (e um dinheirinho) depois do almoço para uma sobremesa, nem que seja uma barrinha de Prestígio na banquinha.
Tenho que sair mais cedo para pegar o ônibus.
Tenho que ir ao médico, tenho que ir à psicóloga.
Tenho que andar um pouquinho, sozinha, cantando, sentindo o Sol bater no meu ombro e rindo das buzinadas dos pedreiros. Tenho que atravessar a rua correndo, porque o sinal já vai fechar.
Tenho que comparecer àquelas aulas de aprofundamento, porque física realmente não é minha praia.
Tenho que dormir no sábado à tarde, porque, depois da minha semana, eu mereço.
Tenho, todas as noites, que deitar-me 15 minutos antes de realmente dormir, para esperar minha pomada anti-acne secar.
Tenho que comprar a edição do mês da minha revista preferida, reservar um momentinho do dia para ler reportagens interessantes e outro para olhar para o nada, pensando no curso de jornalismo que eu vou começar a fazer no ano que vem e sobre o que eu vou fazer da vida depois.
- Estudar biologia?! Psicologia?! Me mudar para São Paulo?! Estudar fora?! Ficar por aqui?! Estudar gastronomia?! ABRIR UM RESTAURANTE?! -(E por aí vai)
Tenho que esfoliar meu rosto por um minuto, no banho, todos os dias, e, mesmo quando está frio e eu passo o tempo todo de meia, lembrar de cortar a unha do pé.

Eu realmente não tenho tempo, mas digo isso da melhor maneira possível. Não é como aquele pai que chega em casa cansado do trabalho, querendo desesperadamente dormir, e que é obrigado a dizer ao filho que não tem tempo de brincar com ele. (Por mais dramática que essa família imaginária tenha turned out to be, é só para ilustrar.) Me lembro de ter, a algumas semanas, lido no Twitter de alguém que estava sem carro alguma coisa do tipo "Eu e meu all-star andando a pé pela cidade... Voltei a ser adolescente!", o que me lembrou de mim-mesma, da minha adolescência, que, apesar da gigantesca ansiedade pelos 18, está sendo vivida e muito apreciada agora. Agorinha. Eu e meu all-star. (Nesse exato momento, para ser mais sincera, eu e minha pantufa)
Caminhando por essa cidade, que, aliás, esteve inacreditavelmente ensolarada esses últimos dias, sinto não ter absolutamente nada a reclamar. E a frase do post de hoje, que é nada mais nada menos do que um resumo da minha última reflexão-enquanto-caminho-pela-cidade, não poderia não ser:
não tem nada melhor do que poder viver e ver a vida pelos seus próprios olhos.

(Apesar de, durante a citada caminhada, eu ter cantado "Dancing With Myself" e pensado em como isso também se aplicava ao meu momento. Bom.)

E depois desse post, tudo o que eu quero fazer é voltar para a minha caminha, ler mais uma reportagem da minha revista e dormir. Afinal, depois de toda essa semana, eu realmente mereço.


Finalmente cortei meu cabelo e não preciso mais passar aquelas tardes procurando cortes no tumblr. (Muito menos editando fotos minhas no Hollywood Hair Virtual Makeover.)

larara larara

segunda-feira, 28 de março de 2011

Apesar de ter, ontem à noite, me desanimado um pouco ao me deparar com o fato do fim de semana ter acabado, hoje vim aqui só para afirmar, com convicção, o quanto amo a minha rotina.

(Sim. Foi só uma frase. Mas deixo uma musiquinha deliciosa para acompanhá-la e para ilustrar um pouco melhor tudo isso.)